31/03/2023 - 2:00
Um dia após o comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) reafirmar que os juros no Brasil vão ficar elevados por mais tempo, o Ibovespa, principal índice da Bolsa (B3), registrou sua mínima no ano, de 97.926 pontos, no fechamento do dia 23. Nesse patamar, o indicador estava 25% abaixo da máxima histórica de 130.776 pontos, observada em 7 de junho de 2021, sinal de que o urso dos mercados domina o mercado de ações local. Embora o urso represente o período de baixa da Bolsa, ao mesmo tempo, segundo especialistas consultados pela DINHEIRO, é também o símbolo para oportunidade de comprar as ações claramente com desconto para o horizonte de longo prazo.
Nas contas de Vitor Carettoni, diretor da mesa de renda variável da Lifetime Investimentos, os múltiplos estão em 6,2 vezes a relação preço e lucro projetada para os próximos 12 meses, nos menores patamares desde a crise financeira global de 2008. “Quando se tira Petrobras e Vale da conta, a relação é oito vezes preço/lucro. Isso é baixo para os padrões internacionais”, afirmou.
Na avaliação do gestor de ações e sócio da 3R Investimentos, Rodrigo Boselli, faz quatro anos que a Bolsa não sai do lugar (veja quadro). “Se considerar a inflação, o retorno é negativo”, afirmou. Ele explica que o mercado olha para as expectativas, vê juros altos e desconta o preço das ações a valor presente. “O mercado é sempre bipolar: quando cai, exagera, e quando sobe, exagera também”, disse. Nas contas deles, o múltiplo preço/lucro está em sete vezes. “Um patamar muito baixo.”
Para a estrategista de ações da XP, Jennie Li, a Bolsa brasileira está barata há bastante tempo, pressionada por motivos políticos e incertezas fiscais. “Se tivermos um arcabouço fiscal crível, talvez volte a subir, mas pode demorar um bom tempo, meio ano ou um ano inteiro”, afirmou. Questionada sobre o momento para oportunidades, Li respondeu que o investidor deve ter cuidado e muita cautela, por causa dos reflexos da crise do setor bancário no exterior. “Temos um cenário difícil lá fora. Os investidores estão saindo de emergentes como o Brasil com esse aumento de aversão de risco global”, disse.
Em argumento semelhante, Vitor Carettoni lembrou que os estrangeiros entraram com R$ 100 bilhões na Bolsa brasileira em 2022 e agora estão retirando seus recursos para cobrir suas posições nos países de origem. Em 10 pregões até o dia 27, os estrangeiros resgataram R$ 3,5 bilhões, embora no ano de 2023 o saldo ainda conserve R$ 7,3 bilhões no positivo. “Com a crise lá fora, temos saída de capital”, afirmou.
Rodrigo Boselli complementa que, além da crise nos EUA e na Europa, as empresas brasileiras estão sendo impactadas por juros elevados. “Um varejista, um industrial não consegue avançar com juros tão pesados para o longo prazo e no curto prazo”, afirmou. Na opinião dele, os juros estão elevados diante do consenso de mercado de que a dívida do governo é insustentável. “Isso afasta o investidor que deseja investir em ações para os juros da renda fixa. Não dá para competir com isso, Selic a 13,75% ao ano”, disse.
OPORTUNIDADES Mas diante das adversidades, Jennie Li aponta que há oportunidades na Bolsa para o horizonte de longo prazo. “A gente gosta de ações defensivas [elétricas, saneamento e telecomunicações], não muito voláteis; de ações do varejo alta renda como Vivara, Grupo Soma; e de empresas com receitas dolarizadas como Suzano e Weg”, disse.
Em observação semelhante, Vitor Carettoni, da Lifetime, mostra preferência por papéis considerados defensivos como Neonergia, Equatorial, Sabesp e Tim. “Boas geradoras de caixa”, afirmou. E também de companhias com receitas em dólar como Weg, Embraer e a Vale. “Temos a reabertura da China que beneficia a mineradora”, disse. Carettoni completa sua lista com ações de varejo alta renda (Arezzo), shopping (Multiplan), consumo para saúde (RaiaDrogasil) e de transporte rotativo (Localiza). Já Boselli cita oportunidades em Vibra, 3R Petroleum e Vulcabras. “Renda variável é imbatível para o longo prazo.” Que o urso da Bolsa vá embora e o mercado tenha o ponto de virada.