Há muitas formas de fazer um país crescer. Um equilíbrio perfeito entre desemprego, inflação e PIB é uma delas. Escoar dinheiro por meio de crédito barato para empresários ou fomentar a transferência de renda são outras formas que já ajudaram alguns países (inclusive o Brasil) por algum tempo. Mas são poucos os meios de anabolizar um PIB de modo constante e perene que não envolvam uma política de estado, e não de governo. Na prática isso significa que o governo precisa gastar melhor seus recursos e encará-los com investimento.

Na educação, por exemplo, a cada R$ 1 investido o retorno para o PIB deveria somar R$ 1,85. Na saúde, render R$ 1,70 a cada R$ 1 despendido. Com apenas essas duas áreas, o Brasil poderia ganhar ao menos 4 pontos percentuais no PIB. “Mas a política precisa ser feita com maturidade, inteligência e comunhão com prefeitos e governadores sem fins meramente eleitoreiros”, afirmou Lúcia Camargo, ex-secretária de Fomento de Políticas Públicas da Casa Civil durante o primeiro governo Lula. Segundo ela, falta encarar esse recurso como um investimento.

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“Olhar as paras áreas que precisam de dinheiro e avaliar quais delas trarão resultados mais céleres.” A avaliação da ex-secretária acompanha um estudo do Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para a África Lusófona e o Brasil, da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP Clear), com o apoio da Fundação Lemann. Segundo eles, uma educação com níveis internacionais está atrelada a um aumento na taxa de crescimento do PIB per capita entre 1 e 2,2 pontos percentuais ao ano. Segundo o professor da FGV EESP e coordenador da pesquisa, André Portela, o aumento da qualidade do ensino básico nos municípios brasileiros está associado a ganhos expressivos na geração de empregos entre jovens. “A escolaridade está associada com a produtividade e explica boa parte da diferença da renda dos trabalhadores.”

Quando olhamos o Brasil perante o mundo, a situação é preocupante. Segundo os resultados dos exames de matemática e ciências do PISA de 2018, o Brasil fica nas últimas posições do ranking, atrás de todos os países desenvolvidos e grande parte dos países em desenvolvimento, incluindo Costa Rica, México e Uruguai. O Banco Mundial já averiguou que, nesse ritmo, o Brasil levaria uma década para alcançar o nível do Chile e 3 décadas pra alcançar Portugal de hoje. Segundo o órgão, o PIB per capita brasileiro poderia ser 66% maior se o país provesse educação e saúde de qualidade para toda sua população. Segundo Jorge Abrahão, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, o investimento em educação não provoca “só” conhecimento. “Gera economia, já que ao pagar salário a professores aumenta-se o consumo, as vendas, os valores adicionados, salários, lucros, juros”, disse.

SOS SAÚDE Outro tema que mostrou toda sua fragilidade e potencial durante a pandemia, os gastos com saúde também precisam entrar no topo da lista de investimentos do governo. Em todas suas fases, desde tratamento de esgoto e melhoria das águas até atendimento no pronto atendimento. E essas iniciativas, explica o técnico do Ipea, envolve qualidade de vida, mas há também um benefício para o governo, já que 56% dos gastos sociais retornam ao Tesouro na forma de tributos. “Esse investimento e retorno foi um dos fatores que amorteceram a crise de 2008. Com o Brasil investimento e alavancando o crescimento, havia um colchão maior para o impacto daquela crise”, disse.

No saneamento básico os números são expressivos. A casa R$ 1 real investido o governo deixa de gastar R$ 4 com saúde pública, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A economista e pesquisadora da ONU Patrícia Di Marinho é uma das que deve levar a discussão sobre saúde e economia nos próximos encontros do órgão. “Precisamos falar de comprometimento com os investimentos. E que eles nãos sejam feitos para atender demandas eleitoreiras”, disse ela. Segundo a ONU, o Brasil poderia elevar seu PIB per capita em 1,8 ponto perncentual apenas usando de modo eficiente a estrutura sanitária que já possui. “Com as obras em andamento e manutenção seria possível aumentar a qualidade de vida do brasileiro ainda este ano”,disse Patricia. Segundo dados recentes do governo federal, o País tem 489 obras de saneamento nesse momento, mas mais da metade delas (51,5%) estão, assim como o PIB brasileiro, paradas.