10/03/2023 - 4:10
É a festa dos juros altos. E não se trata de demonizar nada nem ninguém. As coisas são o que são e os juros estão altos porque a inflação estourou o teto da meta nos dois últimos anos e porque as contas públicas estão igualmente fora de controle e crescendo. Pode chamar de rentismo. Ou pode usar o clássico “é a economia, estúpido”. De concreto, a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano faz a alegria de investidores de todos os tipos e perfis de risco com ganhos reais que se aproximam de 8% num ano em que a economia mostra sinais claros de desaceleração — fazendo as ações patinarem ou apresentarem perdas na Bolsa.
Diante de uma dívida de R$ 5,7 trilhões no mercado, a expectativa de especialistas consultados pela DINHEIRO é que o Tesouro pague mais de R$ 600 bilhões de juros aos seus credores. “É mais de três vezes o orçamento para educação ou saúde”, afirmou o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala. Segundo ele, a situação é bem tranquila para o Tesouro rolar sua dívida. “Depois do caso da Americanas, o crédito privado está travado, e os investidores estão buscando a segurança e a rentabilidade dos papéis do governo com taxas elevadas”, disse Gala.

Para o CEO da Azimut Brasil Wealth Management, Wilson Barcellos, está ocorrendo um “fly-to-quality” dos aplicadores para os títulos públicos. “A inflação, mesmo que um pouco elevada, está controlada no curto prazo”, afirmou. “Com juros de quase 14% ao ano faz sentido abrir mão de ativos de Bolsa neste momento. Mas há muito prêmio (ganho) em ações para o longo prazo”, disse Barcellos.
Os dados do Relatório Mensal da Dívida Pública, relativo ao mês de janeiro, mostram que o número de pessoas físicas que aplicam em títulos pela internet no Tesouro Direto alcançou 2,1 milhões de CPFs ativos, num universo de 23 milhões de CPFs cadastrados no programa. Esse público de varejo atingiu um patrimônio de R$ 106 bilhões. Além deles, não são poucos os investidores que estão posicionados na dívida soberana. Em especial, os investidores institucionais — bancos, fundos e previdência respondem sozinhos por 72% do total (ver quadro).
APOSENTADORIA E a tendência é que mais brasileiros abracem essa aplicação, que tem funcionado como um colchão para a aposentadoria de muitos brasileiros, que aproveitam as taxas expressivas de curto prazo (Tesouro Selic) e também de longo prazo (Tesouro IPCA+ e na novidade Tesouro RendA+ Aposentadoria Extra) lançada na B3 no final de janeiro, que estão prometendo a inflação mais juros reais acima de 6% ao ano.
Na previdência aberta (PGBL/VGBL), dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) de dezembro mostram que 8,691 milhões de CPFs únicos estão em planos individuais e 2,262 milhões em planos coletivos. Na previdência fechada (fundos de pensão), há 2,6 milhões de participantes ativos, segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). O setor previdenciário aporta R$ 1,3 trilhão em títulos da dívida. Busca o que todos buscam: a melhor remuneração disponível no mercado.