O Brasil quer ver sentado na principal cadeira do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) um presidente para chamar de seu. E o nome escolhido é o do ex-presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, indiscutivelmente alguém bem talhado para o cargo e com um plantel de ações no campo do crédito público indiscutível. A escolha, pessoal, é do ministro da Economia, Paulo Guedes, que já vinha articulando uma maior influência na instituição faz tempo. Ele trabalhou para a queda do antecessor, Maurício Claver-Carone, primeiro americano no posto, que caiu atirando e reclamando das maquinações brasileiras e contra o que chamou de retaliações de Guedes. Naturalmente, o que mais pesou no caso de Carone foi ter sido indicado por Trump, opositor do atual presidente americano, Joe Biden. Mas o Brasil queria e almeja sim uma maior relevância no organismo, tido como estratégico para o financiamento dos ditos países emergentes da região. Goldfajn, que atualmente é diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), foi recrutado para missão quase a contragosto, pois planejava permanecer onde estava. No plano de Guedes está uma aproximação mais estreita com o BID para colocar em prática investimentos, especialmente no campo da infraestrutura e da integração regional. As áreas de transportes, energia e telecomunicações também poderão se beneficiar desse BID com uma gestão, digamos, mais verde e amarela. A regra do jogo é mobilizar recursos para o financiamento de empreitadas que andam com verbas escassas e Guedes acerta na movimentação. O ministro está usando com mais frequência o mantra de “projetos sustentáveis”. Sabe como a ideia encanta a comunidade internacional e deseja pegar carona na onda, em um momento no qual o mundo teme por instabilidades econômicas na Europa e EUA. Acha que o Brasil projeta-se como porto seguro ideal e o uso do BID como ferramenta, tendo ali um brasileiro com as credenciais de Goldfajn, será como uma mão na roda. Não é improvável que a cartada dê certo. Ao contrário. O Brasil costuma ter voz ativa e muito respeitada nas decisões do BID. É um dos seus maiores sócios ­— segundo principal acionista — e tomador de recursos. Mergulhou no plano do czar da economia também o Ministério das Relações Exteriores, encarregado diretamente pelo presidente Bolsonaro de promover as articulações necessárias nesse sentido. Goldfajn no BID, o que representaria? Pelo clima de entusiasmo colhido entre os técnicos em Brasília, e mesmo junto à comunidade política, seria um gol de placa. As cadeias regionais e globais de valor estão intimamente ligadas às atuações do BID. O Brasil teria também uma eficiente arma para as negociações com os seus vizinhos parceiros do Mercosul, onde trava no momento uma queda de braço quanto à flexibilização das regras e os acordos que unem os participantes do bloco. Atualmente, o BID tem uma presidência interina sendo exercida pela hondurenha Reina Irene Mejía Chacón, desde setembro, e a eleição que definirá o escolhido será realizada em 20 de novembro. Caso confirmado, será a primeira vez que um brasileiro ocupará o posto em toda a existência do Banco.

Carlos José Marques
Diretor editorial