A melhor indicação do quanto o mercado financeiro estava dependendo da aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff foi o comportamento dos preços na segunda-feira 9. Pouco antes do meio dia, a notícia de que Waldir Maranhão (PP-MA), presidente interino da Câmara dos Deputados havia cancelado a votação do dia 17 de abril teve o efeito de uma bomba. Em poucos minutos, o dólar subiu quase 4%, a bolsa desabou 3% e as taxas de juros futuros apresentarem uma alta de 50 pontos-base (centésimos de ponto percentual), a maior em mais de oito meses.

Toda a turbulência se esvaiu poucas horas depois, quando o Senado ignorou o ato de Maranhão e transformou o pânico e  seu causador em alvo de chacota. Mesmo assim, o solavanco provocado pelo imprevidente deputado demonstrou claramente como os investidores enxergam a troca de comando no Executivo. Para o mercado, a chegada de Michel Temer, sacramentada pelo Senado ao nascer do sol da quinta-feira 12, é uma condição essencial para colocar os negócios novamente na rota correta.

Esse movimento não é uma novidade. Desde o início de janeiro, quando a possibilidade do impeachment cresceu no radar dos investidores, os indicadores mostraram uma melhora consistente. Nesse período, o Índice Bovespa valorizou-se 36,7% e o dólar depreciou-se 12,5% em relação ao real. Um movimento ainda mais abrupto foi notado nos juros futuros. As taxas dos contratos com vencimento em janeiro de 2017, os mais negociados, recuaram quase dois pontos percentuais, de 15,5% em janeiro passado para 13,6% no primeiro fechamento na gestão de  Temer. Outro indicador, o prêmio exigido pelos investidores internacionais para comprar papéis brasileiros, também mostrou melhoras. Na ponta do lápis, o risco-país recuou de 512 pontos-base no fim de 2015 para 387 pontos-base na terça-feira 10.

Como o mercado antecipa os fatos, isso ocorreu dias antes do discurso de posse de Temer. “Mesmo antes da votação no Senado, ele e seus auxiliares mais próximos vinham falando o que os investidores estavam querendo ouvir”, diz Patricia Pereira, gestora de renda fixa da empresa carioca de previdência Mongeral Aegon. “Ao acenar com uma atenção maior ao equilíbrio fiscal, o governo Temer melhora a percepção dos agentes sobre a economia.” O novo governo vai inaugurar um período positivo. Segundo José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o comportamento dos principais ativos financeiros deverá indicar a melhora de humor, com alta das ações, e queda dos juros e do preço do dólar. Além da expectativa de controle mais rígido dos gastos, também agrada a possibilidade de uma política mais afinada à atração do setor privado, em que termos como privatização e parcerias público-privadas (PPP) estejam bem mais presentes nos discursos.

Além de os prognósticos para juros e câmbio serem melhores, as perspectivas para a bolsa também são positivas. Segundo Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Corretora, o simples fato de o risco brasileiro ter caído torna as ações mais baratas. O recuo no mercado futuro de juros obriga os investidores a refazer a conta para calcular o valor das empresas. Segundo Silveira, só isso, sem nenhuma notícia nova, permite prever uma alta potencial de 10% a 15% nos preços das ações, o que indica um índice Bovespa rondando os 60 mil pontos.

Esse cenário potencialmente mais otimista, porém, não exclui os riscos. A conjuntura econômica ainda é complicada. Ilan Goldfajn, indicado para a presidência do Banco Central (BC), terá uma tarefa difícil pela frente, avalia o gestor de recursos independente Alexandre Póvoa, sócio da Canepa Asset. Segundo ele, a desaceleração da economia poderia levar o BC a iniciar uma política de redução dos juros já em junho. O problema é que, pelas contas dos bancos, os prognósticos para a inflação de 2016 continuam em 7%, novamente acima dos 6,5% do teto da meta.

Assim, o novo presidente do BC poderá ter de fazer a difícil escolha entre manter o peso dos juros sobre a economia por mais tempo, frustrando as expectativas de destravar os negócios que acompanham a chegada de Temer, ou então correr o risco de não cumprir, novamente, a meta de inflação. Para 2017, ano em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) reduziu de dois para 1,5 ponto percentual a tolerância da flutuação em relação ao centro da meta, os prognósticos de 5,6% estão perigosamente perto do novo teto de 6%. “Esse é um cenário desafiador para um BC que precisa recuperar sua credibilidade”, afirma o gestor.

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