O dramaturgo alemão Bertold Brecht dizia que “melhor do que roubar um banco é fundar um”. Pelo menos no Brasil, na última década, poucos negócios foram tão lucrativos do que uma instituição financeira. Somente nos oito anos do governo Lula, os cerca de 170 bancos existentes lucraram R$ 184 bilhões – nos dois anos da presidenta Dilma Rousseff foram R$ 52 bilhões. Mas o último peru de Natal disponível na prateira, conforme definiu o economista e ex-ministro Delfim Netto, começou a emagrecer no governo de Dilma. Com a redução da taxa básica de juro a 7,25%, a mais baixa da série histórica, o ganho de capital fácil chegou ao fim – tanto para os investidores como para os banqueiros. 

 

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Na frente da concorrência: Hereda, da Caixa (à esq.), e Bendine, do Banco do Brasil.

Os bancos estatais foram os primeiros a baixar os juros

 

Não bastasse isso, o governo federal pressionou os bancos a diminuir o spread dos empréstimos aos consumidores – a diferença entre a taxa de captação e o valor cobrado dos clientes. Resultado: somado, o lucro dos 25 bancos com capital aberto na Bovespa caiu 8% nos primeiros nove meses deste ano, comparado a igual período do ano passado, segundo dados da Economática. Juntos, eles lucraram R$ 34,7 bilhões nos três primeiros trimestres de 2012. Má notícia? Nem tanto. O novo cenário significa uma transformação da atividade. Trata-se de um aprendizado semelhante ao que aconteceu quando os bancos tiveram de se adaptar ao fim da inflação, em meados da década de 1990. 

 

“A economia brasileira ingressou, com maturidade e consistência, na era dos juros de um dígito”, diz Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil. “Para os bancos ficou a lição de aliar eficiência operacional, modernização de processos e retorno aos acionistas com o que realmente importa para o País: expansão da atividade econômica e benefícios para toda a sociedade brasileira.” Não necessariamente a nova realidade significa que os lucros encolherão. Não há dúvida de que continuarão a ser um bom negócio. Tome como exemplo a Caixa Econômica Federal, que, assim como o Banco do Brasil, foi uma das instituições mais agressivas na redução dos juros cobrados aos clientes. 

 

Nos nove primeiros meses deste ano, a instituição financeira estatal lucrou R$ 4,2 bilhões, o melhor resultado de sua história e 17,7% superior ao mesmo período do ano passado. “Aproveitamos a redução dos juros como uma oportunidade para ganhar mercado”, afirma Jorge Hereda, presidente da Caixa. O ritmo de abertura de contas passou de 205 mil por mês, no início do ano, para 251 mil depois da redução dos juros, em abril. Considerando apenas as contas de pessoa jurídica, o crescimento também foi expressivo: de 27 mil por mês para 40 mil. “O juro menor veio pra ficar”, diz Sergio Garibian, responsável pela área de bancos da América Latina da agência de classificação de risco Standard & Poor’s. “O sistema bancário agora vai ter que trabalhar para melhorar a eficiência.”

 

 

 

O que aprendi sobre Juros mais baixos e câmbio em alta

 

 

Todos saem ganhando

 

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“Ficou provado que há flexibilidade nas taxas de juros e nos custos financeiros, e, se bem administrada, essa flexibilidade favorece empresários, consumidores e o Tesouro Nacional”

Carlos Alberto Vieira, presidente do Conselho de administração do Banco Safra

 

 

Dá para emprestar mais, cobrando menos

 

“A economia brasileira ingressou, com maturidade e consistência, na era dos juros de um dígito. Para os bancos ficou a lição de aliar eficiência operacional, modernização de processos e retorno aos acionistas com o que importa para o País, a expansão da atividade econômica e os benefícios para toda a sociedade brasileira”

Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil

 

 

Mais com o mesmo

 

“Aprendemos que é preciso fazer mais com os mesmos recursos. O Brasil não estava tão imune à crise quanto se esperava e sentimos os reflexos” 

Thomaz Menezes, presidente da SulAmérica Seguros

 

 

Disciplina financeira

 

“O consumidor compreendeu que cuidar bem das finanças ajuda a alcançar uma qualidade de vida melhor”

Gilberto Caldart, presidente da MasterCard Brasil e Cone Sul

 

 

Desonerações funcionam

 

“Os ótimos resultados, impulsionados pelos incentivos fiscais e por um cenário de juros mais baixos, nos mostraram que as desonerações são importantes ferramentas de estímulo ao consumo”

Thomas Schmall, presidente da Volkswagen do Brasil

 

 

O fim do ganho fácil

 

“A confortável distorção provocada pela rentabilidade dos títulos públicos caminha para o seu final. Retorno elevado com risco baixo e liquidez total não fará parte do mundo dos investimentos daqui para a frente” 

Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM

 

 

Mobilidade social se faz no banco

 

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“O crédito se consolidou como uma ferramenta de mobilidade social para o consumidor e contribuiu para um sistema mais sustentável”

Dorival Dourado, presidente da Boa Vista serviços

 

 

Taxas mais baixas sem descontrole da inflação

 

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“O mundo não se acaba pelo fato de o País praticar juros menores, apesar do receio que havia de que as taxas mais baixas levassem ao descontrole da inflação. Ficou provado que foi uma decisão sábia” 

Flavio Rocha, presidente da Riachuelo

 

 

Modelo esgotado

 

“O cadastro negativo está esgotado como modelo de avaliação do risco de crédito. Concedeu-se muito crédito para quem não tinha condições de pagar”

Laércio de Oliveira, presidente da unidade de crédito da Serasa Experian

 

 

Aposta nas pessoas

 

“Tivemos de escolher entre reter talentos ou perder fatias de mercado”

Acacio Queiroz, presidente da Chubb Seguros 

 

 

Diálogo difícil de segurar

 

“O governo tem um viés intervencionista, não acredita na força do setor. O diálogo está difícil” 

Jorge Hilário Gouvêa Vieira, presidente da Cnseg

 

 

Dólar bom é dólar caro

 

“Era preciso uma desvalorização do real para conseguirmos aumentar as exportações. Só foi possível empatar com o resultado de 2011 por causa do esforço no comércio exterior”

Wagner Setti, diretor de comércio corporativo da WEG

 

 

Brasil é competitivo

 

“A indústria brasileira de máquinas é competitiva, desde que não seja sufocada pelo câmbio. Uma desvalorização de R$ 1,70 para R$ 2,10 

foi suficiente para aumentar as exportações em 29%” 

Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq)

 

 

A vida é dura

 

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“O setor financeiro mudou muito e se tornou mais competitivo. Tivemos de aprender a ser mais ágeis e a nos comunicar melhor com os poupadores e com os investidores” 

Túlio Zamin, presidente do Banrisul

 

 

Derrubando mitos

 

“Qualquer crença pode se tornar uma prisão. A incerteza nos obrigou a reavaliar exaustivamente nossas teses de investimentos” 

Otávio de Magalhães Coutinho Vieira, sócio da Fides Asset Management 

 

 

Crédito responsável

 

“As financeiras aprenderam que é preciso se preocupar com a margem e não apenas com a fatia de mercado. Agora, o negócio é ganhar dinheiro, emprestando de forma responsável” 

Érico Ferreira, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi)