13/11/2015 - 20:00
O 10o Encontro Nacional da Indústria proporcionou, na quarta-feira 11, em Brasília, um encontro inusitado entre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Sentados à mesa para um almoço e, em seguida, ocupando o mesmo palco, os dois nomes mais mencionados atualmente no noticiário econômico trocaram sorrisos e gentilezas. “Gostaria de dizer palavras introdutórias para o meu querido ministro Meirelles”, afirmou Levy. “Concordo com tudo que ele vai dizer.
Já fizemos muita coisa juntos e temos muita afinidade de pensamentos.” Minutos antes, Meirelles havia saído em defesa do ministro da Fazenda que, devido ao seu atraso de três horas, estava sendo proibido de discursar pela organização do evento. “Não, não. O ministro é quem vai falar antes de mim”, afirmou Meirelles. “Não se pode quebrar o protocolo.” Naquele momento, predominava um clima de euforia nas corretoras e tesourarias, com a Bolsa em alta e o dólar em queda, por conta de boatos sobre a troca de Levy por Meirelles, que goza do apoio do ex-presidente Lula.
Os rumores de que a presidente Dilma Rousseff estaria disposta a mudar na virada do ano o comando da equipe econômica decorrem, na verdade, de um fogo-amigo injustificado. A ala mais à esquerda do PT, ligada à Fundação Perseu Abramo e à Unicamp, avalia que a política fiscal do ministro da Fazenda levou o País ao atual quadro recessivo. Ignora o fato de que a crise já estava contratada desde o ano passado, quando o populismo fiscal foi levado às últimas consequências com objetivos eleitorais. A maioria dos analistas acredita que a crise política (leia-se: falta de liderança no Palácio do Planalto) inviabiliza o ajuste das contas públicas.
O erro de Levy foi subestimar o impacto negativo que a recessão teria na arrecadação de impostos. Já no caso de Meirelles, o entrave para ele assumir a Fazenda é o relacionamento ruim que teve com a então ministra Dilma no governo Lula. Do ponto de vista da capacidade profissional, o atual ministro da Fazenda e o ex-presidente do Banco Central têm currículo e experiência equivalentes. “A única diferença que vejo entre os dois é a maior desenvoltura política do Meirelles”, diz Alessandra Ribeiro, diretora de Macroeconomia e Política da Tendências Consultoria.
No campo das ideias, eles são contra o congelamento de preços adotado pelo governo Dilma nos últimos anos e creem que o combate à inflação e o ajuste fiscal devem ser prioridades. A diferença, talvez, esteja na execução do plano fiscal. “O ajuste tem de ser completo e ter mais cortes do que elevação de impostos”, afirmou Meirelles, que é contra a volta da CPMF. Diante de um cenário em que o problema político é, de fato, maior do que o econômico, inviabilizando o ajuste fiscal, a simples troca do ministro da Fazenda não teria nenhum efeito prático.
Em uma analogia com o futebol, é como um time que tem uma direção executiva ruim e jogadores de qualidade duvidosa imaginar que a demissão do técnico será a solução dos problemas. Mas, então, por que o mundo financeiro demonstra euforia com a especulação em torno de Meirelles? A DINHEIRO conversou com operadores de mercado e concluiu que uma eventual presença dele na Fazenda teria como pressuposto autonomia para trabalhar. “Na prática, haveria um governo econômico, presidido por Meirelles, e o outro governo que cuidaria dos demais assuntos”, diz um operador com 40 anos de mercado.
Mas será que a presidente Dilma aceitaria essa hipótese? “Por mais que esteja enfraquecida, não dá para imaginar a Dilma cedendo a Fazenda, o Planejamento e o Banco Central ao Meirelles”, afirma Alessandra. Na noite da terça-feira 10, Levy sentiu o peso da desconfiança dos parlamentares em relação ao seu plano fiscal. Em um jantar na casa do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, Levy foi “massacrado” ao tentar defender a recriação da CPMF, segundo relato do senador Romero Jucá (PMDB/RR). A mensagem dos congressistas ao ministro foi a de que apenas cortes de gastos e aumento de impostos não resolvem o problema.
É preciso haver perspectivas de um futuro promissor. No dia seguinte, em carta de agradecimento aos senadores, o ministro da Fazenda ressaltou que “a segurança fiscal só será alcançada pela combinação de ações do lado do gasto e, ouso dizer, da garantia no curto prazo das receitas necessárias para o equilíbrio das contas públicas”. É provável que a sombra de Meirelles persiga Levy até o final do ano para a alegria indisfarçável do fogo-amigo. Já Meirelles, questionado por um empresário se assumiria a Fazenda, afirmou que não comenta “boatos e rumores”. E bolsa e o dólar vão subindo e descendo ao sabor dos ventos especulativos.
Colaborou: Fabrícia Peixoto