02/06/2016 - 18:30
Sob o domínio da holding francesa LVMH estão cerca de 70 grifes de artigos de luxo, como Bvlgari, Dior, Fendi, Givenchy, Hublot, Louis Vuitton, Marc Jacobs, Moët & Chandon, TAG Heuer e Veuve Clicquot. Juntas, faturaram € 35,7 bilhões no ano passado. No comando deste império está o executivo francês Bernard Arnault, que, aos 67 anos – e com uma fortuna estimada em US$ 34 bilhões –, segue exercendo o controle pleno dos negócios, até que seu sucessor assuma o posto.
Pai de cinco filhos, Bernard já tem dois deles trabalhando no grupo: Delphine, de 41 anos, e Antoine, de 38 anos. Nos últimos 10 anos, discretamente, ele tem preparado os herdeiros, colocando-os em altos cargos administrativos no grupo. Formada pela London School of Economics, universidade pública britânica de prestígio, Delphine entrou para a Dior em 2003, onde ficou por uma década até se tornar diretora. Em 2013, ela passou para a vice-presidência da Louis Vuitton, cargo que ocupa até hoje.
Já seu irmão assumiu, em 2005, o departamento de propaganda da Louis Vuitton e poucos anos depois virou o diretor de comunicação da grife. Desde 2011, ele ocupa o cargo de CEO da Berluti, conhecida pela impecável produção manual de seus sapatos e acessórios masculinos. Formado pela Insead, renomada faculdade francesa de administração, Antoine também acumula, desde 2013, o cargo de presidente do conselho da italiana Loro Piana, famosa por suas peças de vestuário de tecidos de fibras, como lã, cashmere e linho.
Administrar essas empresas, no entanto, não é tarefa simples. A responsabilidade de assumir o grupo diz respeito às diferentes personalidades de seus gestores. Bernard é uma figura mais séria, reservada – características herdadas por sua filha. Enquanto Antoine tem se mostrado mais carismático e antenado. “Desde quando era responsável pela comunicação da Louis Vuitton, ele soube entender, por exemplo, a importância do mundo digital. Compreendeu que boa parte dos consumidores agora está na internet.
Além disso, é bastante envolvido nas redes sociais”, diz Gabriela Otto, professora de gestão de luxo da ESPM. Além de respeitar a preferência das marcas tradicionais, de ter um contato mais pessoal com seus clientes, é preciso pensar em ações inovadoras. E isso Antoine parece ter de sobra. É o caso da “Les journées particulières” – que em uma tradução literal pode ser entendida como “dias especiais”. A atividade, criada em 2011, permite acompanhar de perto o trabalho artesanal de boa parte das grifes do grupo.
Ao longo de três dias, 50 marcas abrem, ao público, as portas de suas fábricas e ateliês espalhados não somente na França, como também na Espanha, Itália, Suíça, Polônia e Reino Unido. Este ano, a edição aconteceu na semana passada e recebeu 145 mil visitantes. Essa é uma oportunidade para conhecer os artesãos responsáveis pelos detalhes minuciosos de cada peça. Apesar de Antoine desempenhar uma boa gestão, seu pai ainda não anunciou a data de sua aposentadoria. De qualquer forma, em algum momento, o quase septuagenário Bernard terá que repassar o comando do grupo.
E nisso ele tem sido bem cuidadoso. Uma das medidas que ele já sinalizou nesse sentido foi a transferência de parte de seus bens à Protectinvest, uma fundação belga privada, criada em 2008, ligada à holding Pilinvest, que pertence à sua família. Essa fundação proíbe a venda das ações herdadas durante um período de 10 anos após seu falecimento. Para evitar o desmembramento do grupo, essa medida também determina que os irmãos devam votar de forma conjunta no conselho. Um dos principais desafios de Antoine será ponderar diferentes perfis de interesse junto com os irmãos.
“Se ele conseguir um equilíbrio entre essas atividades que vem desenvolvendo, tornando o grupo mais dinâmico, e manter a rentabilidade, sendo um conquistador de marcas – como seu pai –, vai fazer com que isso fique permeado na cultura da empresa”, diz Gabriela. Em uma recente entrevista a uma agência de notícias de Nova York, Antoine falou sobre a as visões dele e de seu pai. “Somos de gerações diferentes, mas os diálogos são construtivos. Temos maneiras diferentes de fazer negócio e elas são complementares”. Resta saber se ele irá conduzir os negócios mantendo o prestígio do reinado construído nas últimas décadas pelo pai.