30/05/2014 - 20:00
Ao longo da última década, o mundo da tecnologia seguiu a Apple. Quase tudo o que a companhia de Cupertino fazia era rapidamente copiado pelos concorrentes – do tocador de música digital iPod ao smartphone iPhone, passando pelo tablet iPad. Agora, parece que chegou a vez de a Apple trocar de papel e começar a seguir o mundo da tecnologia. Essa é uma das formas de entender a compra da fabricante de fones de ouvido e de música online Beats por US$ 3 bilhões, a maior da história da empresa fundada por Steve Jobs. Anunciada na quarta-feira 28, a aquisição mostra uma inflexão na estratégia de música da Apple, baseada no download.
Confira o que disse Jobs, morto em 2011, sobre o tema: “O modelo de assinaturas de músicas está falido”, afirmou, em 2007. “As pessoas querem ser donas de suas músicas.” A compra da Beats indica que Tim Cook, o executivo que sucedeu o fundador, pensa diferente de seu mentor e acredita que a música online via streaming será fundamental para a evolução da estratégia da Apple, nos próximos anos. Isso não significa que o iTunes, a loja de música da Apple, não seja lucrativo. Ao contrário, ele ainda dá muito dinheiro. Em 2013, por exemplo, respondeu por US$ 6 bilhões dos US$ 10 bilhões em vendas de produtos digitais.
Mas o iTunes vem reduzindo sua participação no mix das vendas virtuais da Apple. Em especial, perde terreno para a App Store, a loja de aplicativos. De acordo com relatório do banco de investimento americano Morgan Stanley, no quarto trimestre deste ano a App Store deve ser responsável pela maioria do faturamento digital da Apple. Em 2011, o iTunes detinha 89% dessa receita. Ao mesmo tempo, a Apple, que foi pioneira ao unir um serviço de venda de músicas via download com um tocador de música digital, enfrenta uma dura competição com os serviços de streaming. Há mais de uma dezena de produtos no mercado. O principal deles é o Spotify, que opera em 57 países, e chegou nesta semana ao Brasil.
O serviço de música online conta com mais de 40 milhões de usuários ativos, sendo dez milhões deles pagantes, e já gerou mais de US$ 1 bilhão em royalties referentes a direitos autorais para artistas, compositores, gravadoras e editores musicais. “Não podemos ter ambições pequenas em um mercado como o Brasil”, diz Gustavo Diament, diretor do Spotify para a América Latina. Esse é o novo campo de batalha no qual a Apple precisará aprender a lutar. A Beats, além de seus fones de ouvido estilosos e caros, é dona de um serviço de streaming que conta com 110 mil usuários – bem menos do que seus principais rivais. Mas, na divulgação da transação, Cook afirmou que o negócio não é sobre o que a Beats está fazendo hoje, mas sobre o que eles farão juntos no futuro.
Tudo leva a crer que a Apple pode transformar a Beats em uma megaplataforma de vídeo, música e conteúdo sob demanda. “Eles têm um formato que consideramos bem-sucedido em agregar usuários”, disse Cook. Antes disso, Cook terá de convencer os analistas de que fez um bom negócio. Muitos acreditam que a Apple pagou demasiado caro e que poderia gastar muito menos dinheiro desenvolvendo uma estratégia própria. “Nenhuma análise racional poderia explicar a avaliação de US$ 3 bilhões pela Beats”, revela um relatório da consultoria de tecnologia americana PrivCo, segundo o qual a empresa fundada pelo rapper Dr. Dre e pelo empreendedor musical Jimmy Iovine faturou cerca de US$ 1 bilhão e teria lucrado US$ 40 milhões, no ano passado.