Nos últimos anos, surgiram aplicativos capazes de fazer qualquer coisa que se possa imaginar, da prática e simples previsão do tempo, passando por panelaços virtuais até aqueles que prometem aposentar os seus óculos, ajudando a enxergar melhor. Poucos vingam e se transformam em um negócio. Menor, ainda, é o número dos que conseguem chegar ao lucro. Esse parece ser o caso dos aplicativos de táxi. Sob praticamente qualquer régua que se meça o negócio, eles são um sucesso. Os consumidores os adotaram em massa. Os taxistas consideram os programas um aliado na hora de conseguir clientes.

E os investidores despejaram bilhões de dólares em empreendedores ao redor do mundo que desenvolveram apps, como são chamados, que fazem essencial­mente a mesma coisa: com poucos cliques em um celular, eles são capazes de localizar o veículo mais perto de onde você está. Sucesso de público e junto aos patrocinadores, no entanto há um pequeno senão em comum nessa história: todos os aplicativos ainda estão longe de chegar ao azul e gerar um retorno a quem investiu neles. Pior: no caso brasileiro, há uma batalha sangrenta pela hegemonia no mercado no qual vale quase tudo para conquistar as graças do cliente.

Desde 2012, os investidores já despejaram R$ 400 milhões no Easy Taxi e no 99Taxis, os dois maiores do mercado brasileiro. Nessa batalha, o Easy Taxi, que foi pioneiro por aqui, teve de deixar de cobrar tarifa dos taxistas, para não perder espaço para o 99Taxis, que adotou a estratégia da gratuidade. Para chamar atenção, os dois enviam promoções aos clientes cadastrados, que conseguem generosos descontos em suas corridas, que com freqüência podem sair quase de graça. Na mais recente jogada, o 99Taxis anunciou o patrocínio ao time do Cruzeiro, bicampeão brasileiro e estampou seu nome nos uniformes de diversos times de futebol durante as finais dos campeonatos estaduais.

“Estar na camisa dos grandes clubes deve trazer um retorno positivo para a imagem”, diz Paulo Veras, CEO do 99Taxis. Com pouco mais de três anos de vida, os dois aplicativos seguem uma receita clássica da internet, utilizada por dez entre dez startups. Eles investem caminhões de dólares dos investidores para se tornar conhecidas e captar clientes. Como não cobram um percentual dos taxistas, o objetivo é asfixiar os rivais que não contam com o aporte financeiro de fundos de capital de risco. “Hoje, apenas 10% das corridas são iniciadas por um aplicativo”, afirma Veras.

“Temos de fazer muito, ainda, para desenvolver esse mercado.” Mas até isso tem um limite. Uma hora a conta será cobrada. Portanto, a questão é: como a 99Taxis e a Easy Taxi vão ganhar dinheiro de verdade? “Poderíamos ser lucrativos, mas fomos capitalizados e isso permitiu jogar essa meta para depois”, afirma Dennis Wang, CEO da Easy Taxi. “ Hoje, há diversos serviços que prestamos gratuitamente, mas que no futuro terão uma taxa.” A principal fonte de renda da Easy Taxi e do 99Taxis são comissões pela intermediação financeira, quando os passageiros usam o aplicativo para pagar a corrida no cartão de crédito ou Paypal.

Outro canal de receitas são os planos corporativos, vendidos para empresas, que pagam uma taxa pela gestão dos táxis. Ambas as fontes, porém, são insuficientes para ajudá-las a fechar o balanço no azul. Por isso mesmo, Veras e Wang já estudam outras maneiras de gerar caixa. A dupla está analisando a entrada nos ramos de entregas de documentos e pacotes e de logística. As informações de navegação sobre trânsito coletadas pelos taxistas também devem gerar recursos. “Estamos em conversações para vender nossos dados de tráfego para empresas de GPS e trânsito”, diz Wang. Na corrida pelo primeiro lucro, as duas rivais não podem perder de vista a chegada de um poderoso concorrente, o temível Uber.

O aplicativo americano, que oferece um serviço semelhante ao de táxi, mas com base em parcerias com motoristas particulares, ganha corpo no Brasil e no mundo. Por aqui, ele enfrenta forte resistência dos profissionais, que estão brigando na Justiça para proibi-lo. Ao contrário dos aplicativos tradicionais de táxi, o Uber gera caixa, muito caixa – estima-se que deva faturar US$ 2 bilhões, neste ano. Quando questionados sobre o rival, Veras e Wang deram respostas semelhantes, como se tivessem sido ensaiadas com antecedência. “Quando estudamos esse mercado, observamos todas as opções e optamos pelo meio legal”, dizem. “O que o Uber faz é contra a lei.” Esse é mais um componente na briga dos aplicativos de táxi. Por enquanto, quem está ganhando são os consumidores.