15/01/2016 - 20:00
Há um ano, após registrar o trimestre mais lucrativo da história de uma companhia aberta, a Apple coroou sua boa relação com o mercado de capitais ao ser a primeira empresa a atingir mais de US$ 700 bilhões em valor de mercado – rumando, segundo muitos, para ser a primeira a valer inacreditáveis US$ 1 trilhão. Os resultados do ano fiscal concluído em setembro do ano passado confirmaram o horizonte promissor. De lá para cá, no entanto, algo se perdeu. A Apple ainda é, com sobras, a empresa mais valiosa do mundo.
Mas a marca da maçã passou a ser um dos alvos prediletos dos questionamentos de Wall Street. As ações da companhia encerraram 2015 com uma desvalorização de 4%. Quando comparadas ao fim de abril, época em que atingiram seu pico, a queda foi de 22%. Na primeira semana de 2016, os papéis fecharam cotados abaixo de US$ 100, o pior desempenho desde outubro de 2014. Sob esse cenário, o que esperar da Apple em 2016? Parte dessa resposta começará a ser dada no dia 26 de janeiro, quando a empresa vai divulgar os resultados do seu primeiro trimestre fiscal.
Até lá, o mais provável é que o CEO Tim Cook e sua trupe mantenham o silêncio. Maior símbolo da aura de inovação da Apple, o iPhone é o principal fator por trás da desconfiança do mercado. Diversos analistas estão prevendo a queda nas vendas do dispositivo no ano fiscal 2016, que será encerrado em setembro. O recuo seria algo inédito na trajetória do aparelho, lançado em 2007. Uma série de elementos justifica as projeções de queda. A escalada dos preços em mercados emergentes, em função da valorização do dólar, é uma delas.
A desaceleração na economia chinesa é outro aspecto. O país asiático foi um dos responsáveis pelas vendas recorde de 231 milhões de iPhones no período. No início do ano, o cenário ganhou contornos mais críticos com a notícia divulgada pelo jornal japonês Nikkei de que a Apple vai reduzir em 30% a produção do iPhone 6S e do iPhone 6S Plus. Segundo a publicação, os estoques dos dois modelos lançados em setembro estão em níveis elevados, devido à demanda abaixo do esperado. A preocupação do mercado é proporcional ao peso do iPhone nos negócios da Apple.
No ano fiscal 2015, o iPhone gerou uma receita de US$ 155 bilhões, ou 66,5% de seu faturamento. “Eles se tornaram muito dependentes do iPhone”, diz Roger Kay, analista da consultoria americana Endpoint Technologies Associates. “Mas mesmo no pior dos casos, a Apple continuará a ser altamente rentável por muitos anos.” Contudo, concentrar todos os ovos em uma única cesta é um risco com precedentes no mercado de tecnologia. Ancorada no domínio do sistema operacional Windows no mercado de PCs, a Microsoft, por exemplo, perdeu o bonde de novas tecnologias, como os próprios smartphones.
E só agora, sob o comando de Satya Nadella, começa a dar sinais de retomada. “A Apple vem mostrando falta de vontade de assumir grandes riscos”, diz Rob Enderle, analista da consultoria americana de tecnologia Enderle. Ele destaca que os últimos lançamentos, como o Apple Music e o Apple Watch, têm aproximado a Apple do lugar comum e que Tim Cook, diferentemente de Steve Jobs, não é um “cara de produto”. O analista independente Neil Cybart é mais otimista. Ele acredita que o iPad Pro é a maior inovação já apresentada no iPad e que o dispositivo irá começar a estancar a desaceleração nas vendas do tablet.
Cybart destaca ainda a nova versão do Apple Watch, aguardada para março, e o lançamento do iPhone 7, em setembro, como boas perspectivas no ano. “O maior rival da Apple ainda é a própria Apple”, diz Cybart. Em relatório, a consultoria americana Zacks Investment Research escreveu que uma das alternativas para a Apple é seguir os passos de Amazon, Google, Microsoft e Salesforce.com e investir na oferta de recursos na nuvem para o mercado empresarial. “A Apple tem uma tecnologia sólida de nuvem e poderia ser bastante rentável se começasse a vendê-la melhor.”