13/05/2015 - 18:00
O belga Alain Visser, vice-presidente da Volvo Cars, é um dos mais influentes executivos da indústria automobilística. Poliglota, Visser percorre o mundo para, olho no olho, ampliar a presença da Volvo em mercados estratégicos. Em visita ao Brasil, o executivo falou à DINHEIRO sobre o que tem feito para cumprir a mais importante missão de sua carreira: rejuvenescer uma marca criada em 1927, que se tornou famosa pela segurança de seus veículos. Para isso, ele administra um orçamento de US$ 11 bilhões em investimentos.
Por que a Volvo está olhando para o Brasil somente agora, em um momento que o mercado está encolhendo?
Há muitos anos, o Brasil está no radar dos investimentos da Volvo Cars, que é a divisão de automóveis do grupo Volvo. Temos uma presença consolidada em veículos de carga e uma percepção de marca muito forte e definida entre os consumidores brasileiros. Por isso, estamos trazendo o novo SUV premium XC90 e queremos renovar todo nosso portifólio, nos próximos três ou quatro anos.
Mas os investimentos não estão foram do ‘timing’?
Não investimos apenas quando todos estão crescendo. Temos de olhar para o potencial do mercado, no longo prazo. Temos convicção de que o melhor momento para investir é quando as coisas, em geral, não vão bem.
O XC90 custa cerca de R$ 360 mil. Como a Volvo pretende vender um modelo tão caro em um país em crise?
Não existe crise nesse segmento. Só como exemplo, a venda de carros da Volvo cresceu 50% na América Latina, no ano passado. Pelo que sei, a Argentina está em crise. A Venezuela está em crise. O México enfrenta dificuldades. O Brasil está estagnado. Se conseguimos dar esse salto em um cenário de dificuldades, só posso concluir que não existe crise para os nossos clientes.
O XC90 será a maior aposta da Volvo, no Brasil?
Não. O mercado brasileiro tem mais espaço para carros entre R$ 70 mil e R$ 100 mil. Nessa faixa haverá mais volume e, em breve, anunciaremos novidades. O XC90 atende a um nicho específico.
Mas o foco será volume de vendas?
Quem quer volume, está perdido. O mercado busca produtos de mais qualidade, mais sofisticados. Não há como sustentar toda uma operação apenas com base na quantidade. Teremos modelos em várias faixas de preços. Nossa meta é vender 500 XC90 neste ano.
Como está sendo a aceitação do XC90?
Fantástica. Fizemos uma pré-venda pela internet, antes mesmo de mostrar o carro ao público. Como a fundação da Volvo foi em 1927, disponibilizamos 1.927 carros. Para nossa surpresa, 27 unidades do XC90 foram vendidos em 47 horas. Doze brasileiros compraram pelo site, sem ao menos ver o carro.
Qual será o investimento?
O plano total prevê US$ 11 bilhões, desde as plataformas para os novos modelos até as ações de marketing e pós-venda.
Como a Volvo pretende aprimorar sua imagem juntos aos consumidores, hoje sendo parte da Geely, um grupo chinês?
A Volvo faz parte da Geely, mas não é Geely. A Volvo é sueca. A Geely é chinesa. Os próprios executivos chineses enfatizam em todas as reuniões que a Volvo precisa ser cada vez mais sueca. Se eles quisessem transformar a Volvo numa marca chinesa, não precisavam ter comprado a marca. Era só continuar com a marca deles.
O que a Geely acrescenta para a Volvo?
Com certeza, a Volvo irá aprimorar a engenharia da Geely. Por outro lado, a Geely tem muita experiência em escala de produção. As duas experiências ajudarão o grupo a aprimorar a qualidade.
Como a Volvo vai convencer os consumidores disso?
Quem conhece a Volvo sabe que a essência da marca é a qualidade e a confiabilidade de nossos carros. Não faria sentido nenhum mudar isso agora e competir com centenas de outras marcas.