28/06/2013 - 21:00
O presidente do Banco BMG, Antonio Hermann, virou garoto-propaganda. Seguindo a trilha de executivos como Antônio Maciel (Ford), Abraham Kasinsky (Kasinski Motos) e Bill Gates (Microsoft), Hermann é a nova estrela de uma campanha da instituição financeira, que foi ao ar na semana passada em horário nobre da TV. Para um banco mineiro, até agora mais conhecido por patrocinar times de futebol, a aposta na comunicação direta com quem compra revela uma mudança estratégica importante. Um banco sem rosto, que refletia a discrição da família controladora, os Pentagna Guimarães, tem agora a cara de um executivo acostumado aos holofotes.
Hermann (à dir.) e Janini: conferindo informações em tablets para evitar fraudes
Hermann, um dublê de piloto de corrida com banqueiro, emprestou sua imagem ao BMG e está com pressa de crescer. Muita pressa. Turbinado pelo capital abundante e barato proporcionado pela associação com o Itaú Unibanco, assinada em julho do ano passado, o BMG prepara-se para avançar nos empréstimos consignados, sua marca registrada. A ordem é emprestar mais, com menos riscos e a custos menores. Um dos principais elementos dessa arrancada são os investimentos em tecnologia. O banco está lançando um sistema inédito de biometria que será usado pelos cerca de 50 mil promotores de vendas dos empréstimos, os chamados “pastinhas”.
Cada um deles terá um tablet com um aplicativo desenvolvido em parceria com quatro universidades, três delas brasileiras. Com ele, será possível ao representante realizar a identificação do cliente, que será fotografado e terá sua assinatura registrada digitalmente. “Dessa forma, podemos verificar inconsistências nas informações que indicam que o candidato é uma pessoa querendo se passar por outra” diz Ricardo Cornedi Janini, diretor-executivo do banco. Investindo uma quantia mineiramente não-revelada há dois anos, o BMG iniciou os projetos-piloto em abril e deverá equipar seus representantes comerciais nos próximos meses.
“Isso vai permitir que elevemos a originação de empréstimos”, diz Hermann. “As fraudes são um dos principais problemas desse negócio e os investimentos em tecnologia são a receita para reduzir as perdas.” A parceria com o Itaú Unibanco permitiu ao BMG romper amarras do crédito. Como todos os bancos de médio porte, a instituição financeira mineira iniciou o ano passado tendo de enfrentar dois desafios. O primeiro era o aumento da concorrência, com os líderes do varejo oferecendo empréstimos consignados em suas redes de agências. O segundo era o encarecimento do dinheiro.
Devido à quebra de bancos pequenos e médios, os investidores estavam reticentes em aplicar nessas casas. “O custo de captação estava elevado, era equivalente a juros de mercado mais 4% ao ano”, diz Hermann. Pela parceria, formalizada em uma joint-venture, o BMG manteve sua estrutura de vendas e o conhecimento do negócio, e o Itaú entrou com capital. Os novos empréstimos passaram a ser divididos entre a joint-venture e o BMG na proporção de 70% e 30%. Hermann diz que ninguém reclama do negócio. “Atualmente, somos maiores do que éramos antes de fechar a parceria.” Pagando menos pelo dinheiro – o custo caiu para juros de mercado mais 2% ao ano –, o BMG pode colocar seu time nas ruas vendendo empréstimos como nunca.
Em um relatório do início de junho, Natalia Corfield e Denis Parisien, analistas do Deutsche Bank em Nova York, afirmam que o potencial de negócios superou as expectativas. A concessão de novos empréstimos atingiu R$ 790 milhões por mês no primeiro trimestre de 2013, resultado 26% superior ao melhor resultado obtido até então, os R$ 628 milhões de 2010. “Cerca de 90% de nossos resultados vêm dos consignados, e vamos continuar nos concentrando nesse negócio”, diz Hermann. A trajetória do BMG nos últimos anos confunde-se com a história desse produto. Flávio Pentagna Guimarães, herdeiro do Banco de Minas Gerais, fundado em 1930 por seu pai, Antônio, sempre buscou oportunidades onde a concorrência não pensava em entrar.
Lançados em 2003, os empréstimos consignados foram a primeira tentativa do governo de baratear o crédito. Para facilitar a vida dos bancos, a Presidência da República aproveitou-se de um decreto-lei de 1945, que os autorizava a descontar as parcelas do crédito automaticamente dos salários ou dos benefícios. O nicho de mercado mais promissor são os cerca de 30,4 milhões de aposentados e pensionistas do INSS, que recebem religiosamente seus benefícios todos os meses. Os primeiros empréstimos consignados foram concedidos a eles pela Caixa Econômica Federal, em maio de 2004. O BMG veio logo em seguida. “Nós começamos cedo e aprendemos a fazer benfeito”, diz Hermann. “Agora, com o capital do Itaú, podemos ganhar ainda mais espaço nesse negócio.”
Itaú adquire a BMG Seguradora
O Itaú Unibanco, através da joint venture Itaú BMG Consignado, anunciou na quinta-feira 27 a compra da BMG Seguradora por R$ 85 milhões. A BMG Seguradora faturou R$ 62,6 milhões em volume de prêmios retidos durante 2012 e já acumula R$ 42,4 milhões em 2013. Com a compra, a BMG Seguradora terá acordos de exclusividade com o Banco BMG e com a joint venture para a distribuição de produtos. A operação ainda precisa ser aprovada pelas autoridades.