No domingo 30, em um camarote em frente à reta de largada da pista do Autódromo de Interlagos, em São Paulo, a euforia tomou conta das cerca de 100 pessoas que acompanhavam as voltas finais da última etapa do Campeonato Mundial de Endurance (WEC, da sigla em inglês). Nenhum deles, porém, tinha tantos motivos para celebrar quanto o anfitrião, o americano Steven Saint Angelo, CEO da Toyota para a América Latina e o Caribe. O executivo é pé quente. Desde que assumiu o posto, em abril de 2013, a montadora japonesa vem acelerando como nunca nas pistas brasileiras.

Inclusive no sentindo literal. Foi em Interlagos, no ano passado, que um carro da equipe obteve a primeira vitória em uma prova da WEC. Agora, graças à segunda posição da dupla Sébastien Buemi e Anthony Davidson, a escuderia conquistou o título de pilotos e o de construtores. Na cena corporativa, a situação é igualmente positiva para o executivo de 58 anos, graduado em engenharia. Sob seu comando, a Toyota vem colecionando números robustos no Brasil e na região como um todo. Para este ano, a expectativa é crescer 8% em relação ao ano passado.

De janeiro a novembro, a empresa aumentou suas vendas em 9% no País, na contramão de um mercado que encolheu 8,4%. Trata-se de um número para lá de portentoso na medida em que ele se dará sobre um avanço de 55%, obtido em 2013, em relação a 2012. “Estou extremamente orgulhoso do que a minha equipe tem conseguido fazer no Brasil e na região como um todo”, disse Saint Angelo à DINHEIRO. Muitas das conquistas estão diretamente ligadas às mudanças no portfólio, especialmente com a entrada no segmento de compactos, com o Etios, produzido na fábrica de Sorocaba, no interior paulista.

Caberá ao modelo a função de transformar o Brasil na nova plataforma de exportações da empresa. Até o ano passado, os embarques se limitavam às unidades do Corolla direcionados à Argentina. Agora, estão entrando no mapa global da filial o Uruguai e o Paraguai. Para viabilizar essas operações, a matriz autorizou o investimento de R$ 1 bilhão em uma fábrica de motores em Porto Feliz (SP), que deverá ser concluída até 2016. O esforço está ligado à decisão do board mundial de fazer com que os mercados emergentes contribuam com a metade das vendas da companhia.

A meta consta da política batizada de Visão Global da Toyota, que, para ser bem-sucedida, dependerá muito do que acontecer no Brasil, o primeiro país a abrigar uma fábrica da montadora fora do Japão. No entanto, instalada em 1958, a subsidiária brasileira acabou sendo colocado em “banho-maria” pela matriz. Uma situação bastante diferente da atual. Nesse contexto, como fica a China? “A América Latina, em geral, e o Brasil, em particular, não têm por que temer a China ou qualquer outro país emergente”, diz Saint Angelo. “Temos capacidade de superar todos eles e nos tornarmos o mais poderoso mercado do planeta.”

Tamanho otimismo tem por base os números obtidos nesses 19 meses em que assumiu o posto. O ritmo tem sido intenso. A fábrica de Sorocaba, onde é produzido o Etios, está operando na capacidade máxima de 70 mil veículos por ano. “Nenhuma outra unidade no continente está trabalhando a esse ritmo”, afirma. A chegada das novas versões do Corolla, que retornou ao posto do sedan médio mais vendido do Brasil, além dos utilitários esportivos Hilux e RAV4, ajudou a montadora a se firmar como a sétima força do setor.

De acordo com a Fenabrave, que reúne as concessionárias, a Toyota fechou o acumulado janeiro-novembro com uma fatia de 5,83% das vendas totais de automóveis e comerciais leves, quase dois pontos à frente da compatriota Honda. Para atingir essas marcas, o executivo vem trabalhando duro. Tanto que ainda não conseguiu aprender o português. Seu vocabulário se resume aos protocolares “muito obrigado” e “bom dia”. Ele diz que isso não se deve à falta de empenho, mas sim ao fato de que não consegue parar no escritório central, em São Paulo, para seguir as lições de seu professor particular.

A rotina mensal de Saint Angelo inclui visitas às fábricas, além de uma viagem ao Japão, onde vai prestar contas do que acontece por aqui. “Não dá tempo para fazer nada além de trabalhar”, afirma. Mas ele não se queixa. Muito ao contrário. “Carrego o sangue latino em minhas veias e fiquei muito animado com a possibilidade de trabalhar na região”, diz o executivo, descendente de imigrantes italianos. Isso fica evidente no jeito como ele fala sobre o Brasil e os demais países latino-americanos, sempre louvando seus aspectos positivos.

Tanto nas perspectivas econômicas quanto em relação à cultura. Além do jeito afável e do gosto pela boa prosa, Saint Angelo, que é chamado de Steve por amigos e subordinados, é do tipo que tem combustível nas veias, tamanha é a sua relação com o setor automotivo. Em 2005, depois de uma carreira de 30 anos na General Motors, foi convidado para transferir-se para a Toyota, onde dirigiu a unidade da cidade de Georgetown, no Kentucky. Sua ascensão se deu na mesma velocidade que ele tenta imprimir à subsidiária brasileira.

Atuou como responsável pelo departamento de qualidade, engenharia e manufatura, até se tornar o segundo americano a pilotar a filial considerada modelo pela Toyota. Também comandou a unidade do Mississipi. A ascensão meteórica, de acordo com fontes citadas pela Bloomberg, estaria ligada ao seu bom relacionamento com ninguém menos que Mark Hogan, ex-manda- chuva global da GM e que hoje ocupa um assento no Conselho de Administração da Toyota. Foi de Hogan, que já comandou a subsidiária da GM, no Brasil, nos anos 1990, a ideia de indicar a Akio Toyoda, presidente mundial e herdeiro do clã fundador da Toyota, o nome de Saint Angelo para o posto atual. Pelo jeito, não se arrependeu.