Na gíria do futebol, cavalo paraguaio é aquela equipe que dispara no começo do campeonato, atropela todo mundo, mas tropeça no meio do caminho e acaba na rabeira, esgotada, sem fôlego e com a língua de fora. A metáfora, em outras palavras, mostra que nem sempre aquele que parece forte e faz cara feia de fato é ou precisa ser temido. Nos últimos dias, a expressão se tornou apropriada para explicar os atritos diplomáticos do governo brasileiro com o Paraguai. Magoado pela decisão dos integrantes do Mercosul – Brasil e Argentina à frente – de suspender o país do bloco, depois do questionável impeachment do ex-presidente Fernando Lugo, o recém-empossado presidente Frederico Franco afirmou que, em resposta ao boicote, deixará de “ceder” a eletricidade excedente da Usina de Itaipu ao Brasil, em que os dois são sócios. 

 

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No embalo, Franco disse que repetirá a dose com a Argentina, sócia na hidrelétrica de Yacyretá. O rancor ficou ainda mais evidente com a decisão de aceitar a Venezuela, do desafeto Hugo Chávez. Na vida real, as coisas deverão funcionar de uma forma bem diferente, passado o surto bravateiro que acometeu o presidente guarani. Como o país vizinho consome apenas 7% da energia a que tem direito – exatamente por ser economicamente nanico, com uma população de 6,5 milhões de habitantes, o equivalente à metade dos moradores da cidade de São Paulo –, o Brasil acaba comprando toda a eletricidade excedente, pela qual desembolsa cerca de R$ 800 milhões por ano. Em outras palavras: a ausência dessa receita representaria um rombo nas contas públicas paraguaias, uma redução de quase 22% na arrecadação federal.

 

A ameaça paraguaia ou é uma piada de mau gosto ou um amador blefe político. O presidente Franco nem ficou ruborizado quando apareceu em rede nacional dizendo que a energia que hoje vem para o Brasil deve ficar no país. Ficar no país? Sim, para ajudar a economia a crescer, propiciar a industrialização e estimular a geração de empregos. Ora, nem que o Paraguai passasse a produzir em seu território todos os produtos contrabandeados que abastecem o comércio ilegal de toda a América do Sul, ou distribuísse lâmpadas e televisores de LED – sem nota fiscal, é claro – a todas as residências do País, conseguiria consumir os sete mil megawatts a que tem direito em Itaipu. Uma bravata semelhante a essa aconteceu com a Bolívia, de Evo Morales, em 2006. 

 

O presidente boliviano, um autêntico representante da população de maioria indígena, estatizou as reservas de gás natural do país, colocou o Exército nas refinarias da Petrobras e, de repente, se deu conta de que não teria para quem vender a riqueza que seu território possuía debaixo da terra – que só serve para queimar. Sem a energia de Itaipu, o Brasil passaria um cortado, é verdade. Teria de acionar as termelétricas e definir um plano de racionamento para evitar um apagão. Do lado de lá da fronteira, no outro extremo da Ponte da Amizade, haveria um país bem iluminado, cheio de energia, mas sem dinheiro para pagar médicos, policiais e professores. Um prejuízo político que, no longo prazo, custaria mais do que os R$ 800 milhões que o Paraguai recebe. Afinal, vai vender a sua energia para quem, cavalo paraguaio?