Para que o mercado brasileiro atinja o mesmo grau de liquidez do americano, no segmento de criptomoedas, precisamos levar em conta alguns fatores relevantes. O primeiro é o tempo. Apesar de o bitcoin ter surgido em 2008, a moeda ficou inicialmente restrita ao mundo dos programadores e deslanchou apenas em 2013. No Brasil, a popularização ocorreu apenas em 2017, quando atingiu uma valorização histórica de 1.375%. Como tivemos uma adesão tardia a esse mercado, é natural que sua maturidade leve mais tempo para acontecer por aqui.

Outro aspecto que pode nos ajudar a dar passos mais largos é o desenvolvimento de iniciativas idôneas a fim de garantir a segurança das transações com criptomoedas realizadas por corretoras. De acordo com um relatório recente da Chainalysis, o uso de bitcoin em mercados ilegais pode bater recorde este ano, com gastos acima de US$ 1 bilhão. O uso de criptomoedas para fins ilícitos ainda é um grande impeditivo para a popularização desta modalidade de investimento não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Nesse sentido, torna-se ainda mais importante que o mercado desenvolva mecanismos refinados de segurança para evitar o uso indevido de criptoativos, com algumas ações bastante inovadoras.

Dada a pouca idade do mercado, ainda carecemos também de iniciativas de educação financeira que possam orientar pessoas interessadas sobre como começar a investir de forma responsável e segura. Segundo uma pesquisa realizada pela Kaspersky em 22 países, apenas 10% das pessoas compreendem como as criptomoedas funcionam. Como é um assunto muito comentado na imprensa, a tendência é que, com informação, as pessoas se interessem mais pelo tema e invistam mais em moedas digitais. Prova disso é que, de acordo com esse mesmo estudo, cerca de 14% dos entrevistados que não utilizam criptomoedas atualmente gostariam de usá-las no futuro.

Um avanço importante que demos recentemente foi a criação da instrução normativa da Receita Federal que institui que aqueles que operam com moedas digitais devem reportar ao governo todas as transações feitas no mês anterior. A regulação, primeira do tipo no Brasil, estipula que  as corretoras informem à Receita as informações de todas as transações de seus clientes, e obriga pessoas físicas que investem neste mercado de forma independente a prestar contas de suas transações mensais, desde que maiores que R$ 30 mil. A iniciativa representa um marco na profissionalização do mercado e um importante passo no combate à obtenção de ganhos ilícitos a partir de pirâmides financeiras e outros meios fraudulentos.

Com efeito, o mercado brasileiro tem sim condições de se consolidar e alcançar um nível de maturidade semelhante ao de outros países, como é o caso americano. Com o tempo necessário para que isso aconteça, o fortalecimento de medidas de segurança e regulamentação, a tendência é que o Brasil alcance maior espaço nesse segmento, marcado pela alta volatilidade e risco, mas que tem trazido facilidades imensas enquanto forma de pagamento e canal para remessas internacionais, além de estar transformando a forma como lidamos com o dinheiro.

 

(*) Daniel Coquieri é COO e cofundador da BitcoinTrade, corretora
especializada no mercado brasileiro de criptomoedas.