O presidente da fabricante alemã de autopeças Bosch, Besaliel Botelho, voltava na sexta-feira à tarde para sua casa em Campinas, no interior de São Paulo, quando quase se envolveu em um grave acidente. Ao entrar na rodovia dos Bandeirantes, que liga a capital ao oeste do Estado, ele não percebeu que o trânsito estava parado a sua frente. Para não bater, Botelho teve de pisar no freio e jogar o carro para o canteiro central. Foi uma manobra arriscada, mas que evitou uma tragédia. Isso só foi possível por que seu automóvel é equipado com freios ABS, que impedem o travamento das rodas, mantendo o controle do carro mesmo em situações extremas como essa. Esse mesmo equipamento que salvou a vida do executivo é um exemplo da falta de desenvolvimento do setor de autopeças no Brasil. 

 

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A Bosch é a única que produz o equipamento no País. Ela detém cerca de 80% desse mercado, que nunca se mostrou atrativo para outras grandes empresas da área, seja por não se tratar, até agora, de um item obrigatório na indústria automobilística, seja pela falta de capacidade de investimento dos fabricantes locais. Apesar de o Brasil ser o quarto maior mercado mundial de automóveis, o setor de autopeças enfrenta uma difícil situação. Segundo dados do Sindipeças, que representa as empresas do segmento, as vendas recuaram mais de 15% até julho. A balança comercial acumula um déficit de US$ 19 bilhões desde 2007 e deve fechar 2012 com um resultado negativo de US$ 6 bilhões. 

 

“Não adianta exigir mais tecnologia das montadoras sem pensar na indústria de autopeças”, afirma Botelho. “Hoje não somos competitivos.” Esse cenário está prestes a mudar. O novo regime automotivo, que determina o aumento do índice de nacionalização dos carros fabricados no País, animou as fabricantes de autopeças. As empresas que produzem freios ABS, contudo, contam com um incentivo adicional. A partir de 2014, todos os carros produzidos no Brasil terão de sair de fábrica com esse componente. Em uma estimativa conservadora, os freios ABS deverão movimentar R$ 3 bilhões ao ano. É por esse motivo que a Bosch está investindo R$ 60 milhões para ampliar sua fábrica em Campinas. A capacidade da sua unidade industrial quase triplicará, passando a produzir dois milhões de unidades por ano. 

 

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Besaliel Botelho, da Bosch (à dir.), e Maurício Muramoto, da Continental (à esq.),

investem na produção de freios abs, um mercado de R$ 3 bilhões no Brasil

 

“É uma grande oportunidade para nós”, afirma Botelho. “Fizemos a coisa certa ao apostar nesse mercado em 2007, quando ninguém falava disso no Brasil.” Na esteira da Bosch, outras empresas estão anunciando planos para produzir esse componente no Brasil. É o caso de sua conterrânea Continental. Maurício Muramoto, presidente da companhia no Brasil, confirmou que a empresa vai produzir os freios ABS em sua fábrica de Várzea Paulista, no interior de São Paulo. A unidade, com capacidade de fabricar 1,2 milhão de freios por ano, entrará em operação no início de 2013. Esse investimento faz parte de um plano da empresa, lançado em 2007, que prevê a injeção de R$ 1 bilhão nas operações brasileiras em cinco anos. 

 

Globalmente, a Continental é a segunda maior fabricante de freios ABS, atrás apenas da Bosch. “Não é novidade para nós competir com a Bosch”, diz Muramoto. “No Brasil, acredito que em pouco tempo vamos dividir esse mercado.” A competição, no entanto, não será restrita às duas companhias alemãs. A americana TRW, que comprou a brasileira Freios Vaga, de Limeira (SP), em 2000, também passará a fabricar ABS no País no próximo ano. A capacidade de produção da companhia será de um milhão de unidades por ano. “A lei que obriga a instalação do equipamento abriu um novo mercado”, afirma Wilson Rocha, diretor de vendas da companhia na América do Sul. “Teremos capacidade de atender até 25% da demanda.” Os investimentos da TRW para produzir o equipamento localmente chegam a R$ 65 milhões.

 

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