15/01/2016 - 20:00
Nas análises de tendências sobre os preços de petróleo, há mais variáveis a se observar além das tradicionais pontas da demanda e da oferta, como sugerem os mandamentos mais básicos de teoria econômica. A geopolítica é o fator que costuma embaralhar o quebra-cabeça dos modelos e, nos últimos meses, tem forçado um grupo maior de especialistas a admitir incapacidade em traçar cenários confiáveis. Desde que os árabes se lançaram numa ofensiva para empurrar produtores americanos para fora do mercado, ao não reduzir a produção mesmo diante da queda nos preços, a oferta descolou da demanda e não há sinais de mudanças.
A pressão se acentuou com as incertezas recentes em relação à China e empurrou o petróleo tipo Brent para menos de US$ 30 o barril, a menor cotação desde abril de 2004. Mais impactante do que a mínima, foram os relatórios de bancos que indicaram novos tombos e a possibilidade de o barril chegar a inacreditáveis US$ 20. Os efeitos de mudanças abruptas costumam ser medidos sob duas óticas: a dos grandes produtores e a dos importadores. No momento atual, perdem os primeiros (Rússia, Venezuela etc.) e se beneficiam os do segundo grupo (Europa, China etc.).
O Brasil está entre os prejudicados, já que a sua maior empresa é uma petroleira, que está endividada e com um plano ambicioso de negócios (leia mais aqui). Em xeque também está a viabilidade de exploração na área do pré-sal. Nela, os projetos só se justificam com cotações acima de US$ 45. O ambiente de preços deprimidos joga mais uma cortina de fumaça sobre a cadeia de fornecedores, que no Brasil já vem sofrendo com o aperto no crédito e a desaceleração da estatal.
Nas grandes petroleiras, o volume de investimentos congelados somou US$ 380 bilhões em 2015, num total de 68 projetos, segundo a consultoria de energia britânica Wood Mackenzie. O efeito alcança o mercado financeiro, que vê pressões nas dívidas dessas empresas. A hora é de apertar os cintos, revisar o portfólio de ativos, vender os menos estratégicos e focar nas áreas mais rentáveis. “Há um aquecimento no mercado de fusões e aquisições”, afirma Roberto Santos, do Centro de Energia e Recursos Naturais da consultoria EY.
Especialistas calculam que o preço natural do petróleo esteja num intervalo entre US$ 50 e US$ 80. Por ora, contudo, as cotações devem se manter abaixo disso com a produção em pleno vapor nos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) – há, até, a perspectiva de mais oferta com o fim das sanções comerciais ao Irã. Nesse cenário, a demanda demoraria mais alguns meses para encostar no nível de produção atual, que tem um excedente de 3 milhões barris/dia. “A correção dos preços vai estimular o aumento de demanda”, afirma Edmar Fagundes Nunes, professor do grupo de economia de energia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ).
“Se nada acontecer na geopolítica, haverá uma recuperação em 2017.” O que está cada vez mais claro é que se iniciou um período de volatilidade, após a quase estabilidade em US$ 100, de 2011 a meados de 2014, excetuando-se a crise de 2008/2009. Isso significa que a retomada, quando acontecer, pode ser também abrupta. Trata-se de uma péssima notícia para quem depende
da cotação para se planejar, como as cidades e Estados beneficiados pelos royalties, as petroleiras e seus fornecedores.