No período em que esteve à frente da Vale, de 2001 a 2011, o então presidente da empresa, Roger Agnelli, ficou conhecido por sua estratégia expansionista, baseada na diversificação dos negócios da mineradora, aqui, mas principalmente lá fora. A justificativa era que a companhia não deveria ficar tão dependente do apetite chinês por seu carro-chefe, o minério de ferro. A empresa investiu, naquele perío­do, US$ 33,28 bilhões em 27 aquisições, que incluíram desde a compra da mineradora canadense Inco até blocos de exploração de petróleo e gás natural e fabricantes de alumínio. Na virada da década, porém, o mercado mudou. 

 

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Sai de cena: alto custo da energia no País fez a Vale desistir da produção de alumínio

 

A China, embora não cresça mais a dois dígitos, mantém uma demanda crescente, e Agnelli foi sacado do comando, no primeiro semestre de 2011. O novo CEO, o mineiro Murilo Ferreira, resolveu, então, fazer uma “limpa” na carteira de negócios, promovendo uma retirada estratégica de atividades antes consideradas promissoras. A política agora é encolher para crescer no seu principal ramo de atividade, o minério de ferro. A maior mineradora do mundo chegou à conclusão de que precisa reforçar o seu caixa para bancar os investimentos, aumentar sua capacidade de produção e atender à demanda pelo minério.

 

Isso será necessário se a Vale quiser ver suas concorrentes australianas BHP e Rio Tinto cada vez mais longe no retrovisor. “Os investimentos são muito altos”, disse Murilo Ferreira, CEO da companhia, a analistas de mercado. “Temos de ter prudência em relação ao fluxo de caixa.” As mãos de tesoura de Ferreira começaram a entrar em ação no início do ano passado. Desde então, a Vale já arrecadou entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões, segundo estimativas. “Eu acredito que nós teremos aí um final de ano com muito trabalho, assim como o início de 2014”, disse o executivo. Segundo ele, alguns projetos já devem ser levados ao Conselho. 

 

A Vale deve focar em ativos de minério de ferro, cobre, níquel e carvão. “O que estiver fora disso deverá ser colocado à venda”, afirma o analista da corretora Planner, Luiz Caetano. No terceiro trimestre deste ano, a receita operacional obtida com os negócios fora desse universo foi de R$ 3,33 bilhões, pouco mais de 10% dos R$ 29,51 bilhões faturados pela Vale no período. Somente com minério de ferro, a receita foi de R$ 17,72 bilhões, o que representou 60,1% do total. “No momento, essa postura de desinvestimento é a mais acertada”, afirma Caetano. 

 

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Murilo Ferreira: vendas de ativos não essenciais já renderam

de U$ 4 bilhões a US$ 6 bilhões, estimam analistas

 

De acordo com o analista, a empresa deve colocar à venda a sua participação de 31% no capital da Log-In, operadora de cabotagem no País. “Pode render um bom dinheiro.” Na pauta do Conselho também está a venda de 26% do capital da Vale Logística (VLI) para a Brookfield Asset Management Inc. Dessa forma, a mineradora ficaria com menos de 40% do controle da empresa. Em setembro, ela já passara adiante 20% do capital da controlada para a japonesa Mitsui e 15,9% para o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, administrado pela Caixa Econômica Federal. Nessa operação, ela arrecadou R$ 2,7 bilhões. 

 

“É uma visão com perspectivas de curto prazo”, diz o analista do Banco do Brasil Victor Penna. “Para os próximos dois anos, o plano é correto. A China ainda demandará muito minério.” O maior negócio em que a Vale entrou e está saindo é o de alumínio. Em 2011, nos estertores da gestão Agnelli, a companhia aumentou a participação para 90% na norueguesa Norsk Hydro, uma das maiores produtoras de alumínio do mundo, que opera em Paragominas, no Pará, e pagou cerca US$ 4,9 bilhões. Em novembro, a Vale decidiu desembarcar da empresa e repassou para os noruegueses sua fatia no controle. Ela recebeu US$ 1,82 bilhão. 

 

“Talvez tenha sido o maior ‘mico’ para a companhia”, diz a analista da corretora Concórdia Daniela Martins – guardadas as proporções, maior que esse talvez apenas o que espera o Corinthians quando tentar vender o atacante Alexandre Pato, cujo passe custou R$ 40 milhões. A Vale micou também com os custos altos da energia para a produção do alumínio. “Era um negócio para o qual ela buscava alternativas, pois as despesas são altas e a rentabilidade esperada não veio”, diz Pedro Galdi, analista-chefe da corretora SLW. “Ela se apequena para depois crescer.” 

 

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