Passear em shoppings no fim de semana, que por muito tempo foi visto como coisa de paulistano, virou mania nacional. Mesmo depois de conquistar a maioria das cidades grandes e médias, a profusão de novos centros de compras ainda impressiona. Somente neste ano, 43 novos empreendimentos serão lançados em todo o País, o dobro do ano passado e 10% dos 430 estabelecimentos em operação hoje no Brasil. O boom de shoppings é apenas parte do extraordinário crescimento que a indústria da construção civil vive há pelo menos uma década. Na mesma medida, o País se destaca como um dos mercados imobiliários mais dinâmicos do mundo em escritórios comerciais e na área habitacional. 

 

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Teto novo: o programa Minha Casa Minha Vida receberá recursos de R$ 72 bilhões até 2014.

 

Depois de assistir a um aumento excessivo nos preços, que gerou uma onda de pessimismo em relação à consistência do crescimento do setor, o mercado começa a se ajustar. Neste ano, a expansão será de pelo menos 5%, quase o dobro do previsto para o PIB. A ascensão de milhões de brasileiros da classe D para a C deu ainda mais fôlego para a indústria. O programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, teve papel importante. A primeira fase, entre 2009 e 2010, consumiu R$ 34 bilhões e financiou a construção de um milhão de casas populares. A segunda etapa, lançada este ano, pretende aportar mais R$ 72 bilhões para erguer dois milhões de residências até 2014. 

 

O cenário otimista é fruto não apenas do déficit habitacional crônico que se verificava até a metade da década passada, como também da consolidação da cadeia imobiliária, que viu surgir construtoras e agentes de financiamento preparados para investir. “O Brasil precisa construir 1,9 milhão de moradias por ano ao longo de uma década para atender à demanda e as empresas vão responder por mais de 80% disso”, afirma Claudio Bernardes, presidente do Sindicato da Habitação (Secovi), em São Paulo. Para dar conta desse desafio, as grandes incorporadoras foram à bolsa, deflagrando uma série de IPOs, a partir de 2006. De lá para cá, 22 empresas lançaram ações, captando no mercado cerca de R$ 20 bilhões para bancar seus programas de investimentos. 

 

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Mãos a obra: a edição 659 contou a história da nova

geração de empreendedores da construção civil.

 

Três delas levantaram no lançamento inicial e na venda subsequente de ações a metade daquele total – à frente a PDG (R$ 3,9 bilhões), seguida pela a Gafisa (R$ 3,1 bilhões) e pela Cyrela ( R$ 2,9 bilhões). “Foi a grande oportunidade para que o mercado se profissionalizasse e tivesse acesso a um volume muito maior de recursos para expansão”, afirma Emílio Fugazza, diretor de relações com investidores da Ezetec, que captou R$ 542 milhões em 2007. Mas a enorme expectativa dos novos acionistas, sobretudo os fundos estrangeiros, a exemplo do Equity International, do bilionário investidor americano Sam Zell, acabou custando caro para as empresas. 

 

A pressão por mais volume de lançamentos, combinada com a disparada nos preços dos terrenos, do material de construção e da mão de obra derrubou o valor das ações de diversas companhias. Levantamento da consultoria Economática para a DINHEIRO revela que, enquanto em 2009 o preço dos papéis negociados em bolsa triplicou, a baixa chegou a 27%, no ano passado, na média do setor. Ultimamente, contudo, o cenário vem dando sinais de melhora. Neste ano, as ações do setor já subiram 6,5%. Enquanto metade das empresas listadas em bolsa vai mal, a outra metade, que ajustou melhor sua estratégia, é recompensada. A Ezetec decidiu não sair de São Paulo nem entrar na baixa renda e, com isso, acumula alta de 53% nas ações nos últimos 12 meses. 

 

“O humor não é dos melhores, ainda porque o mercado agora vai ter que se provar”, diz o analista de mercado imobiliário do JP Morgan, Marcelo Motta. “A mudança é que o investidor está sabendo diferenciar melhor quem gera bom retorno e caixa.” O desafio para a indústria da construção agora é se ajustar aos tempos de estabilidade. Embora o preço dos imóveis continue subindo exageradamente em algumas praças como Recife, cuja valorização beira os 30%, entre junho de 2010 e 2011, o boom registrado há três anos não deve se repetir. “Não há uma tendência de alta acentuada, mas os preços não vão cair”, diz Bernardes, do Secovi-SP. “Estamos chegando a um equilíbrio saudável entre oferta e demanda.”

 

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