27/05/2016 - 17:15
O senador Romero Jucá (PMDB-RR), que perdeu o cargo de ministro do Planejamento em apenas 11 dias, irá fazer falta para o presidente Michel Temer aprovar as reformas econômicas no Congresso. Jucá possui três características reconhecidas: é habilidoso, onipresente e sempre está ao lado do poder. Desde 1995, desempenhou em diversos momentos o papel de líder dos governos Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, no Senado Federal.
A onipresença se traduz na sua capacidade de participar das reuniões de articulação política no Palácio do Planalto ao mesmo tempo em que monitora a tramitação de projetos relevantes no Congresso Nacional. Já a habilidade política pode ser constatada pela facilidade com que consegue aglutinar forças de diversas correntes partidárias, da esquerda à direita. Era, na teoria, o currículo perfeito par a o papel de ministro do Planejamento, unindo a sua formação em Economia à sua proximidade com os parlamentares.
Na prática, no entanto, Jucá acumulava denúncias que, como bombas-relógio, poderiam explodir repentinamente. Elas não explodiram, mas uma gravação teve efeito bombástico. Antes mesmo de anunciar oficialmente a sua equipe ministerial, o presidente Michel Temer já sofria críticas por incluir políticos investigados em cargos estratégicos. Jucá era um deles – alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) devido a investigações das operações Lava Jato e Zelotes, da Polícia Federal.
Entre correr o risco de ter um aliado investigado ou abrir mão de sua influência no Congresso, Temer optou pela primeira. Imaginava-se que nenhum escândalo aconteceria no início do governo. Porém, teve de assinar a sua exoneração do cargo após a divulgação de uma gravação, na segunda-feira 23, em que o senador sugere que o impeachment de Dilma e a ascensão de Temer poderiam frear a Lava Jato. Ele nega essa interpretação. O áudio foi captado por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, que teve o seu acordo de delação premiada homologado pelo ministro do STF Teori Zavascki.
Na lista de gravações de Machado aparecem ainda o presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros, e o ex-presidente da República José Sarney, ambos do PMDB. Na conversa, Renan defende uma alteração na lei que trata da delação premiada. Já Sarney diz a Machado que pode ajudá-lo, “sem meter advogado no meio”, a evitar o encaminhamento do seu caso para a vara do juiz federal Sergio Moro, em Curitiba. A reação imediata dos partidos de oposição foi a de comparar o caso de Jucá com o do senador cassado Delcídio do Amaral, acusado de tentar obstruir a Justiça.
Na terça-feira 24, o PDT entrou com uma denúncia no Conselho de Ética contra o peemedebista por quebra de decoro parlamentar. Em declarações públicas, a cúpula do governo Temer trata Jucá como um ministro licenciado, que pode voltar ao cargo a qualquer momento. Enquanto isso, os aliados tentam negar que a sua saída representa uma perda na articulação política, num momento em que o governo não pode sofrer derrotas no Congresso. “Em nada altera. Pelo contrário. Talvez a volta do senador Romero Jucá ajude aqui no Congresso a fazermos uma articulação ainda mais forte”, diz o senador cearense Eunício de Oliveira, líder do PMDB no Senado.
Para analistas e empresários que acompanham cada passo do novo governo, a derrocada do ministro é preocupante. “O Jucá é muito competente e espero que ele continue no Ministério do Planejamento”, afirmou Ricardo Roldão, presidente do Atacadista Roldão, empresa que fatura cerca de R$ 2 bilhões por ano, na segunda-feira 23, logo que as gravações foram divulgadas. “A estratégia do PT é de guerrilha e, evidentemente, eles vão colocar a culpa de tudo no Temer.” Na avaliação do cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, a base política para a aprovação da agenda econômica está em formação.
“Por ser um governo ainda interino, o desafio político é maior”, diz Cortez. “E a Lava Jato é um fantasma onipresente.” A tramitação do primeiro pacote econômico da equipe de Henrique Meirelles, anunciado na terça-feira 24, será um teste de fogo para a base aliada (conheça as medidas aqui). Por se tratar de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), requer 60% dos votos na Câmara e no Senado. Na madrugada da quarta-feira 25, o governo obteve sua primeira vitória numa votação que pode ser considerada um teste preliminar.
A nova meta fiscal, com um rombo de R$ 170,5 bilhões neste ano, foi aprovada em votação simbólica numa sessão que durou mais de 16 horas. “Eu acompanhei a votação até as 4h30 e foi uma bela vitória”, disse Temer, poucas horas depois. Para recolocar a economia nos trilhos, o governo precisará tocar em temas espinhosos, como as reformas da previdência e trabalhista, dialogando com as principais centrais sindicais. “Entendemos que as medidas são duras, mas necessárias, uma vez que são direcionadas para o crescimento econômico e em prol de um País mais igualitário e justo”, afirma o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), que preside a Força Sindical.
Num ambiente político de alta voltagem, o empresariado prefere aguardar um pouco mais antes de conectar suas máquinas à tomada. “Existe uma expectativa positiva, mas só isso não é suficiente para mover o investimento. Falta aprovar as reformas”, diz Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios. “A reforma da previdência será o grande teste para a equipe de Temer mostrar se é eficiente ou se terá de retomar as negociações mais amplas, problemáticas, que não levam a lugar nenhum.”