21/04/2016 - 17:00
Após registrar Guido Mantega como o mais longevo ministro da Fazenda (de 2006 a 2014), a história do Brasil está prestes a constatar a terceira troca na principal cadeira da economia em apenas 18 meses – fato inédito na era pós-Itamar Franco. No fim de 2014, depois da reeleição da presidente Dilma Rousseff, Joaquim Levy foi nomeado. Quase doze meses se passaram até que Nelson Barbosa ocupasse o seu lugar. Agora, diante do iminente processo de impeachment de Dilma, a bolsa de apostas volta a registrar os palpites do mercado financeiro.
Desta vez, no entanto, a troca do ministro da Fazenda é vista como algo salutar por empresários e analistas, que vislumbram uma virada econômica sob a liderança de Michel Temer. De uma forma geral, todos aplaudem os nomes especulados até agora: Murilo Portugal, ex-secretário do Ministério da Fazenda; Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central (BC); Marcos Lisboa, ex-secretário do Ministério da Fazenda; e Armínio Fraga, ex-presidente do BC. A montagem do novo governo está sendo executada com cautela pelo vice-presidente da República, Michel Temer.
Por um lado, o peemedebista não quer passar a mensagem de que a votação do processo de impeachment no Congresso está sacramentada. De outro, não pode ficar de braços cruzados à espera do resultado final, que pode demorar até seis meses. “Muito silenciosa e respeitosamente, vou aguardar a decisão do Senado Federal”, afirmou Temer, na terça-feira 19, na porta de sua residência, no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Porém, a poucos metros dali, uma intensa movimentação no escritório do PMDB demonstra que o “silêncio” não impede articulações.
A prioridade é escolher o homem forte da economia que terá a missão de dar um choque de confiança na sociedade. “Esses nomes sondados têm larga experiência”, diz Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). “Não é tarefa para um homem só. Precisamos de um conselho de economistas que atuem em favor do Ministério da Fazenda.” Na segunda-feira 18, Temer teve um jantar com Armínio Fraga, no qual foi debatida a gravidade da situação econômica. O ex-presidente do Banco Central a classificou de “dramática”, prometeu ajudar o novo governo com ideias, mas descartou assumir o cargo de ministro.
Outro economista que prefere manter distância de Brasília, embora esteja disposto a ajudar com propostas, é Marcos Lisboa, que atualmente preside o Insper. “Quanto mais medidas oportunistas, como essa que está sendo discutida pelo Supremo Tribunal Federal, mais caro será o ajuste”, afirmou Lisboa, na terça-feira 10, em referência às liminares obtidas por Estados para trocar os juros compostos das dívidas com a União por juros simples. “Não existem juros simples na vida econômica.”
Um nome que ganhou força nos últimos dias é o de Murilo Portugal, que foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda, trabalhou no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional (FMI) e atualmente preside a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Além dele, Henrique Meirelles é visto com bons olhos pela equipe que assessora Temer. Na semana passada, em Nova York, o ex-presidente do Banco Central avaliou que será preciso elevar a carga tributária “temporariamente” para melhorar o quadro fiscal, mas não mencionou qual seria o imposto mais adequado.
“Isso é algo que será proposto pela equipe que vier a assumir”, disse Meirelles, que driblou as especulações sobre o seu nome. “Eu não comento conversas privadas.” Para ocupar o comando do Banco Central, a cúpula do PMDB avalia o currículo de Ilan Goldfajn, que já foi diretor da instituição e atualmente é o economista-chefe do Banco Itaú; o de Mário Mesquita, que também foi do BC e é sócio do banco Brasil Plural; o de Amaury Bier, que foi da Fazenda e hoje trabalha com Fraga na Gávea Investimentos; e o de Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e sócio-fundador da gestora de fundos Mauá Capital.
“O perfil é o de alguém que consiga congregar, olhar o País, entender os desafios e buscar soluções”, diz Roberto Medeiros, presidente da Multiplus. “Precisamos de um governo de coalizão, com união de forças.” Além de definir nomes, Temer pretende melhorar a gestão e enxugar a máquina do governo. Uma ideia é criar três grandes áreas – economia, infraestrutura e social –, reduzindo o número de ministérios de 32 para 20. “É um tratamento de emagrecimento forçado”, diz Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Além disso, a prioridade, na avaliação dos empresários, é arrumar a questão fiscal, melhorando a confiança dos agentes econômicos. “O importante é apontar uma agenda de reformas para o Brasil e seguir executando”, afirma Carlos Jereissati Filho, presidente do Grupo Iguatemi. “Isso é suficiente para a economia ir melhorando.” A base das medidas econômicas será o documento “Uma Ponte para o Futuro”, que o PMDB divulgou em outubro do ano passado, com diversas medidas que agradam o mercado.
“Quando esse programa for apresentado, o maior efeito será na baixa dos juros”, afirma à DINHEIRO Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, que almoçou com Temer na quarta-feira 20 (leia entrevista aqui). A expectativa do setor produtivo é de que o governo Temer consiga dar previsibilidade aos negócios, destravando os investimentos em infraestrutura, que serão fundamentais para o futuro do País.
No dia seguinte à aprovação da abertura do processo de impeachment, pela Câmara dos Deputados, cerca de 400 CEOs e donos de empresas participaram de um evento promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE), em São Paulo. Os sentimentos predominantes eram de alívio e esperança. “Existe uma animação no empresariado a partir de hoje”, disse Aldo Leone Filho, presidente da Agaxtur. “É um otimismo que se traduz em investimentos.” Com a experiência de quem foi já foi ministro e atua no setor privado há décadas, Furlan resume as perspectivas para o País: “É como no futebol em que, após uma vitória, a torcida se anima.”