31/03/2016 - 19:00
A deterioração da situação econômico-financeira das empresas nunca foi tão dispersa entre os setores da economia brasileira. Em função deste cenário de instabilidade, muitas delas precisam estar atentas e ligar um sinal de alerta: aquelas que perderem o timing para agir podem não ter chances de se recuperarem. As expectativas negativas relacionadas à economia foram confirmadas pelo IBGE com a divulgação de uma queda de 3,8% do PIB no ano passado, quando comparado com 2014, o pior resultado desde 1990. Além disso, caso a perspectiva de mercado divulgada pelo Banco Central, no último relatório Focus, seja confirmada para 2016, o PIB continuará sua trajetória de queda, retraindo 3,5% em relação ao ano passado.
Esses fatos não só provocam a apreensão de investidores, mas, principalmente, desafiam a continuidade das empresas de quase todos os setores. Diante do agravamento das condições macroeconômicas e da queda na demanda de produtos e serviços, muitas companhias vão precisar adaptar as operações, abrindo mão de margens que, provavelmente, já se encontram no limite, para tentar superar os desafios que colocam a própria sobrevivência em risco. Esse cenário tem consequência direta entre o empresariado brasileiro. Dados da Serasa Experian apontam que, no ano passado, os pedidos de recuperação judicial aumentaram, aproximadamente, 55% em relação ao ano de 2014. Além disso, só no primeiro bimestre deste ano, essas solicitações são 16,4% superiores ao mesmo período em 2015.
É comum existirem empresas com baixa produtividade, mão de obra superdimensionada, lead time maior que o necessário e desbalanceamento de estoque e de linhas de produção. A baixa importância dada ao planejamento de produção, o descaso com as margens operacionais, a ausência de controle de custos alinhado com ações de racionalização e preservação de caixa e capital de giro resultam na necessidade de elevada alavancagem para a continuidade das atividades. A chave para a sobrevivência é a arrumação de casa, a reestruturação operacional.
Algumas características são essenciais para que um processo de reestruturação tenha um resultado positivo. Um planejamento bem sucedido conta com uma liderança forte e deve ser implementado em diversas áreas como a societária, financeira, estratégica e operacional. Para isso, um detalhado diagnóstico das causas do fracasso e um robusto processo de revitalização da organização devem ser desenvolvidos e implantados com firmeza.
É fato que, diante de uma boa reestruturação, uma empresa pode se restabelecer e até voltar mais forte do que antes. Mas, para isso, o timing para agir é fundamental. Por exemplo, não adianta esperar a empresa zerar os estoques, perder principais clientes, criar situações de impasse com bancos e fornecedores.
Em adição ao imprescindível trabalho de reorganização operacional, as empresas contam com a possibilidade de ferramentas previstas em lei como os processos de recuperação judicial e extrajudicial. Nunca haverá garantia do apoio dos credores, porém, as que de fato investem na melhoria das operações possuem muito mais chances de contar com o apoio dos credores e, com isso, serem resgatadas de uma situação de crise ou crise iminente. Nesses casos, os principais benefícios concedidos pelos credores vão desde carências e alongamentos nos contratos até descontos sobre o valor das dívidas.
No Brasil, muitos empresários buscam a proteção de uma recuperação, seja ela judicial ou extrajudicial, como última alternativa para manter os negócios vivos. Buscam a proteção da lei tardiamente e sem planejamento. A situação atual demanda que os líderes tenham agilidade e firmeza no enfrentamento da crise. Saber a hora certa de agir é fundamental, ou então estaremos somente adiando um melancólico final: a falência.