Os investidores que correram para o site do Tesouro Direto na manhã de quinta-feira 3 foram surpreendidos com o aviso da suspensão das negociações dos títulos públicos. O motivo era a Forte volatilidade das taxas de juros um dia depois que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (veja reportagem aqui). Nas últimas semanas, o conturbado cenário político tem mexido com a projeção do juro, o que tem ocasionado várias interrupções no leilão dos títulos pelo Tesouro Nacional.

A prudência tem ligação com a alta procura de pequenos investidores por papéis do governo. Em outubro, 17,2 mil pessoas fizeram o cadastro no Tesouro Direto que, com um total de 587,3 mil inscritos, superou pela primeira vez o número de 582,1 mil cadastrados na BM&FBovespa. “O Tesouro Direto é versátil, acessível, seguro e rentável”, diz Bruno Saads, especialista em renda fixa da XP Investimentos. “É uma alternativa para quem só conhece a poupança e os CDBs oferecidos pelos bancos.”

Mais da metade das operações mensais no Tesouro Direto têm tíquete médio inferior a R$ 2 mil. Esse pequeno investidor tem sido atraído, principalmente, pela remuneração dos títulos pré-fixados, que estão no maior patamar dos últimos 10 anos. Na semana passada, foi possível contratar um retorno sobre o investimento de 16% ao ano. Em 2005, os melhores juros pagos estavam próximos a 18%. O resultado é um recorde no estoque, que cresceu 57,7%, para R$ 22,9 bilhões, até outubro. “Hoje, nenhum outro país tem taxas tão atrativas como o Brasil”, afirma Arnaldo Curvello, diretor de gestão de patrimônio da Ativa Investimentos.

“A liquidez e a eficiência do Tesouro Direto atraem tíquetes menores que R$ 100.” O valor mínimo é de R$ 30. O investidor deve escolher entre títulos pré-fixados LTN ou NTN-F, quando a taxa de juros é acertada no momento da compra, ou pós-fixados LFT ou NTN-B, quando a remuneração só será conhecida no dia de vencimento do papel, pois estão atrelados a um indexador – inflação ou taxa Selic. Neste momento de muita instabilidade, a indicação dos especialistas é a busca por títulos atrelados à inflação, como o NTN-B com vencimento em 2020, que oferece retorno de 7,4% mais IPCA (que hoje está próximo de 10%).

“Ter parte do portfólio de investimentos protegida da inflação é uma boa opção”, diz Saads. “A vantagem é que o quarto e o primeiro trimestres recebem a pressão do consumo e das tarifas, o que eleva a inflação e aumenta o retorno para o investidor desses títulos.” Mas, se a opção é por um horizonte de longo prazo, principalmente para os investidores que apostam no sucesso do ajuste do ministro da Fazenda Joaquim Levy e enxergam uma melhora na economia, a opção deve ser pelos títulos pré-fixados. Aqueles que não precisam resgatar o dinheiro antes de 2021, por exemplo, receberiam rentabilidade de 15,7% ao ano no LTN-21.

A equipe macroeconômica do Modal utiliza mais um argumento a favor desses títulos: o Brasil está próximo de um cenário de dominância fiscal, o que fará com que qualquer alta na taxa Selic pressione as contas públicas, aumentando o déficit fiscal. Com isso, a inflação sobe, em vez de cair. Se esse cenário se confirmar, as taxas de juro estariam próximas do pico. “Há pouco espaço para aumento da Selic, o que torna os pré-fixados mais atrativos”, afirma Rodrigo Puga, sócio do Banco Modal responsável pelo home broker modalmais. “Dos nossos clientes que estão indo para a renda fixa, 60% escolhem CDB e LCI e 40% o Tesouro Direto.”

A compra e venda de títulos públicos é relativamente simples. Eles podem ser adquiridos diretamente no Tesouro Direto, desde que o investidor tenha conta corrente numa instituição financeira, que pode ser de um banco ou uma corretora de valores. É esse agente intermediador que vai abrir um cadastro junto ao Tesouro Nacional para que o investidor faça as operações. Além dos diferentes tipos de rentabilidade, prazos de vencimento e fluxos de remuneração, é importante ficar atento aos custos. Existe uma taxa fixa de 0,3% ao 
ano paga como custódia à Câmara de Liquidação da BM&FBovespa. Bancos e corretoras cobram, em média, 0,2% ao ano.