O executivo Luiz Eduardo Baptista, presidente da operadora de tevê via satélite Sky no Brasil, é conhecido no setor de telecomunicações pelos comentários ácidos e por não fugir de um bom debate. Foi assim ao longo dos anos de discussão sobre a abertura do setor de tevê paga para as empresas de telefonia. Baptista, um dos mais ferrenhos opositores da ideia, temia que o mercado de televisão por assinatura fosse engolido pelas companhias telefônicas, que são muito maiores.  Essa batalha ele perdeu: a lei que abre o setor para as operadoras de telefonia foi aprovada em agosto. Agora, no entanto, o executivo vai ao contra-ataque. E mais uma vez disposto a fazer barulho. Em parceria com a Nokia Siemens, a Sky lançou na semana passada seu serviço de banda larga 4G, uma tecnologia que fornece uma velocidade de acesso à web até oito vezes maior que a disponível pelo sistema anterior 3G. Além de ser a primeira rede do gênero do Brasil, a investida marca o ingresso da Sky no mercado de banda larga, um serviço tradicionalmente dominado pelas rivais das telecomunicações.

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Luiz Eduardo Baptista, da Sky: “Se tivermos sucesso em Brasília, poderemos competir com os tubarões da telefonia”

O início da rede de quarta geração no Brasil estava sendo retardado porque as operadoras de telefonia não querem investir nessa tecnologia agora, sob o argumento de que precisam de mais tempo para obter o retorno dos investimentos feitos na ampliação da infraestrutura de 3G. É uma posição oposta à dos fabricantes de celulares e do governo federal, que veem no recurso uma chance de evitar um caos do tráfego de dados na Copa do Mundo de 2014. “Já começamos andando de carro zero, enquanto os demais ainda estão no carro velho”, diz Baptista.  A Sky estreia nesse mercado ofertando apenas banda larga fixa sem fio (wi-fi) para parte do Distrito Federal. A ideia da empresa é beneficiar-se da explosão do uso das conexões de banda larga, que registrou 53,9 milhões de acessos, entre outubro de 2010 e outubro deste ano,  um crescimento de 68,4%.  

Além de representar uma novidade no segmento de internet, a estratégia da Sky contou com um empurrão do governo, que apoiou diretamente a viabilização do serviço e enxerga nele uma maneira de forçar as operadoras de telefonia a investir no 4G. “Vendemos uma capacidade de conexão de 100 mega da nossa rede para a Sky”, diz Caio Bonilha, presidente da Telebras, estatal reativada para encabeçar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). “Acredito que será um grande sucesso.” Ao estimular a chegada do 4G, o governo federal dá um passo importante em seu projeto de levar a nova tecnologia às cinco cidades-sede da Copa das Confederações em 2013 e às 12 sedes da Copa de 2014 no Brasil. A presidenta Dilma Rousseff determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) faça leilão para licitar o 4G para celulares até o fim de abril do próximo ano. 

 

Segundo Maximiliano Martinhão, secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, o edital deve sair em janeiro. “Depois da Sky, todo mundo vai querer entrar”, diz Martinhão. “2012 será o ano do 4G e o da tevê por assinatura no Brasil.” Embora as atenções do mercado de telecomunicações estejam voltadas à cobertura 4G para celulares, algo que deverá acontecer apenas em 2013, a Sky ainda não decidiu se vai entrar nessa área. O governo, no entanto, deseja a participação da empresa no leilão programado para abril, conforme já declarou o próprio presidente da agência, João Rezende. A intenção de Baptista, o chefão da Sky,  é primeiro testar o potencial de demanda da tecnologia em rede fixa para, quem sabe depois, apostar na telefonia móvel. Por isso, resolveu lançar o serviço em Brasília e nas cidades-satélites de Águas Claras e Sobradinho, onde investiu inicialmente R$ 20 milhões para a infraestrutura de rede.

 

Até fevereiro do ano que vem, a meta é cobrir todo o Distrito Federal. Se o retorno for bom, a empresa pretende expandir a cobertura para outras 11 cidades, entre elas Goiânia, Belo Horizonte e Belém, onde a Sky tem licença da Anatel para operar na faixa de 2,5 gigahertz. Essa frequência, ociosa até o ano passado, foi liberada pela agência para ativar as primeiras conexões 4G no Brasil. “Se tivermos muito sucesso na capital federal, poderemos competir com os tubarões”, diz Baptista. “Hoje somos uma sardinha.” A Sky contará com a parceria da Nokia Siemens, que desenvolveu a tecnologia de equipamentos para ativar o 4G. “Essa ainda é uma tecnologia emergente no mundo”, afirma Eduardo Araújo, diretor da Nokia. “Mas, pela sua qualidade, devemos expandi-la rapidamente no País.”

 

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