Estava voltando de viagem no Ano-Novo quando sintonizei o rádio do carro numa influente emissora de rádio de São Paulo. A comentarista de economia entrevistava uma assídua fonte do mercado financeiro sobre as perspectivas para 2014. De repente, a tarde ensolarada pareceu cobrir-se de nuvens negras, tamanho o rol de previsões catastróficas apresentado pelo entrevistado: contas públicas desordenadas, inflação que ameaçava estourar a meta, fuga em massa dos investidores na Bovespa, retranca na entrada de capitais estrangeiros por conta da perda de credibilidade do ministro da Fazenda, governo Dilma Rousseff em rota de colisão com o empresariado, inevitável disparada do dólar para além dos R$ 2,70. 

 

60.jpg

 

No cenário de horror, havia também o risco cada vez maior do apagão, do rebaixamento da nota do Brasil pelas agências internacionais de rating e do etiópico pibinho que seria divulgado nas semanas seguintes. Ao final da entrevista, entre piadinhas e boutades, a tal comentarista não se conteve e decretou: 2014 já acabou. Seria melhor passarmos a pensar em 2015. Confesso que na hora senti vontade de pegar o primeiro retorno e fazer meia-volta. Para onde, não sei. Talvez em direção ao Xingu, em busca de um lugar sem rádio, sem tevê ou internet, onde pudesse sobreviver à catástrofe. 

 

No entanto, resolvi ir em frente. Afinal, Brasileiro: profissão esperança, já definia o paraibano Paulo Pontes (1940-1976), num musical estrelado por Clara Nunes e Paulo Gracindo, em 1970, no auge da ditadura militar. Resolvi que era preciso, como dizia a música de Ivan Lins, desesperar jamais. Valeu a pena pagar para ver. Janeiro e fevereiro foram passando e aquelas profecias não se realizaram. O superávit primário anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou em R$ 75 bilhões, acima da meta de R$ 73 bilhões, sem malabarismos, sem contabilidade criativa. 

 

O investimento estrangeiro direto (IED), que é o que interessa para qualquer economia, pois se trata de capital não especulativo, teve uma pequena queda de 3,9%, mas ficou em US$ 63 bilhões, mantendo mais uma vez o Brasil na liderança do ranking na América Latina. Quanto ao Produto Interno Bruto, está longe de ser o pibinho anunciado de antemão, para surpresa da turma do contra, ficando em 2,3%. Embora ainda aquém das necessidades de um país emergente, o resultado traz uma notícia animadora: a taxa de investimentos, também conhecida como Formação Bruta de Capital Fixo, avançou 6,2%, resultado muito superior ao de 2012, quando tombou 4%. 

 

Com fina ironia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, previu que os economistas estupefatos com os últimos dados divulgados passariam o Carnaval refazendo suas contas. O certo é que, somando-se a tudo isso, o anunciado corte de R$ 44 bilhões nas despesas e a meta de 1,9% do superávit primário fizeram com que o clima de pessimismo que os urubólogos de plantão haviam semeado no início do ano foi abalado antes mesmo que março chegasse. “Isso vai gerar um choque de realidade sobre a economia do País. 

 

O pessimismo não se traduz em recessão ou queda do PIB”, reconheceu a insuspeita professora Monica Baumgarten de Bolle, da PUC-RJ, não exatamente uma entusiasta do governo Dilma. A explicação para os desacertos dos economistas e para o clima negativo gerado por suas previsões furadas foi dada pelo ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros. “Boa parte dos agentes substituiu o cérebro pelo fígado e essa é a pior coisa que pode acontecer para um analista econômico”, afirmou. Em outras palavras: não, 2014 não terminou. Na verdade, está apenas começando. E ainda vai ter a Copa…