26/09/2012 - 21:00
O homem que denunciou o PT
O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) foi o homem-bomba que abalou a República, em 2005, ao revelar o “mensalão”. Após se ver envolvido num escândalo de corrupção nos Correios, ele denunciou o esquema de financiamento montado para a suposta compra de apoio de parlamentares ao governo Lula, em 2003 e 2004. Suas denúncias ecoam até hoje, quando o STF começa a julgar os envolvidos no esquema que comprometeu a imagem do PT. Jefferson, que foi cassado em setembro de 2005, ficou famoso por fazer ameaças ao então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. “Sai, Zé! Sai rápido daí para não tornar réu um homem inocente”, disse na ocasião, em referência ao presidente Lula, que sempre alegou não saber de nada. Atualmente, Jefferson é presidente do PTB e ainda está sendo julgado pelo STF, acusado de ter recebido R$ 4 milhões do esquema mensaleiro.
Roberto Jefferson, presidente do PTB, para José Dirceu: ”Sai, Zé! Sai rápido daí
para não tornar réu um homem inocente”
A testemunha-chave
Entre abril de 2003 e janeiro de 2004, Fernanda Karina Ramos Somaggio foi secretária do publicitário Marcos Valério de Souza. Tempo mais do que suficiente para anotar todas as operações fraudulentas entre seu chefe e diversos políticos que faziam parte do esquema do mensalão. Em junho de 2005, Fernanda Karina concedeu entrevista exclusiva à DINHEIRO, na qual revelou fatos bombásticos que auxiliaram as investigações. Karina, atualmente, vive reclusa em uma chácara no interior de São Paulo. Confira trechos da entrevista:
Como a sra. tinha conhecimento?
Ele era meu chefe e eu estava sempre com ele.
Haveria pagamentos de propinas a gente do governo?
Eu já vi sair muito dinheiro de lá.
A sra. tem noção de quanto?
Já vi o boy sair com motorista para tirar R$ 1 milhão do Banco Rural. Era para depois dividir o dinheiro, entendeu?
E por que a senhora está contando isso?
Eu amo meu País. Estou falando para tentar melhorar.
Outros personagens importantes do mensalão
Marcos Valério
Dono das agências DNA e SPM&B, apontadas como responsáveis pelo repasse de dinheiro a deputados petistas, Valério foi condenado pelo STF, neste mês, por corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.
José Dirceu
O ex-ministro-chefe da Casa Civil foi apontado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, como o “chefe da quadrilha” do mensalão, mas ainda não foi julgado. Em junho de 2005, Dirceu deixou o cargo de ministro e teve o seu mandato de deputado federal cassado.
Delúbio Soares
O ex-tesoureiro do PT é réu no processo do mensalão, mas ainda não foi julgado pelo STF. Foi expulso do partido na época do escândalo, em 2005, mas retornou seis anos depois.
Kátia Rabello
Filha do empresário Sabino Rabello, que fundou o Banco Rural, Kátia foi condenada pelo STF por gestão fraudulenta, no julgamento do mensalão. Kátia presidia a instituição que, segundo os juízes, simulou empréstimos às empresas de Marcos Valério.
E o vento alagou Nova Orleans
O furacão Katrina, que alcançou a categoria máxima 5 da escala de Saffir-Simpson, causou mais de mil mortes e prejuízos de US$ 108 bilhões, no litoral sul dos Estados Unidos.
O ponto mais castigado foi a região de Nova Orleans, onde, em 29 de agosto de 2005, mais de um milhão de pessoas foram evacuadas. O presidente George W. Bush foi criticado pela demora na assistência às vítimas. Nova Orleans ainda não foi totalmente reconstruída.
Fumaça branca
Dezessete dias após a morte do Papa João Paulo II, em 2 de abril de 2005, a fumaça branca e o repicar dos sinos no Vaticano anunciaram a eleição do cardeal alemão Joseph Ratzinger, que se tornaria o Papa Bento XVI.
Primeira divisão
Um grupo seleto de empresas nacionais – Petrobras, Aracruz, Vale, Embraer e Votorantim – ganhou o grau de investimento das agências de classificação. Era o prenúncio de que o Brasil também chegaria lá, o que acabou acontecendo em 2008.
A queda do templo do luxo
A Daslu, o templo do luxo em São Paulo, erguido pela empresária Eliana Tranchesi, desabou no dia 13 de julho de 2005, ao ser invadida por 250 policiais federais e 80 auditores da Receita. Eliana chegou a ser presa por 12 horas sob acusação de fraudar notas fiscais de importação. Desde então, a Daslu, que foi comprada em 2011 pelo fundo Laep, tenta retomar o glamour de outros tempos da marca. A empresária morreu em fevereiro de 2012, vítima de câncer.
Corrida dos investimentos
No oitavo ano da DINHEIRO, o dólar recua e a bolsa sobe, a despeito da crise do mensalão.
Entrevista do ano
A desilusão de Conceição Tavares
Maria da Conceição Tavares, hoje com 82 anos, já foi uma das economistas mais influentes do Brasil. Defensora do PT, ela se desiludiu com o partido quando estourou o escândalo do mensalão. Confira o que pensava Conceição Tavares sobre alguns temas de 2005:
Sobre o Mensalão
“O choque foi muito grande. Minha única alegria é saber que o Celso Furtado morreu antes de ver isso.”
Sobre o governo Lula
“É um governo de merda. Mas é o meu governo, merda!”
Sobre o futuro do PT
“Joguei meus últimos anos de vida num projeto que fracassou.”
Sobre sua forma de demonstrar indignação
“Enquanto eu tiver saúde, e ultimamente não tenho tido muita, vocês vão ver o que é gritar.”
Sobre a alta de juros no começo do governo Lula
“Foi uma barbeiragem.”