30/10/2015 - 20:00
O indicativo de que o Federal Reserve, o banco central americano, vai dar início ao aumento da taxa básica de juros nos Estados Unidos, em dezembro, reduzirá a “goleada” que o Brasil vem dando em todos os países desde que o Banco Central começou a elevar a Taxa Selic, no final de 2012. A provável decisão do Fed, que tanto agrada aos especuladores, remete ao encontro anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, realizado em Lima, no Peru, entre os dias 8 e 11 de outubro.
Nos quatro dias do evento, diversos gestores de fundos de investimento globais usaram a Copa do Mundo para brincar com qualquer brasileiro que estivesse pela frente: “O placar de 7 a 1 da Alemanha foi muito bom, mas o 14 a 0 do Brasil é espetacular”, relataram aqueles que cansaram de ouvir essa comparação. A imagem figurativa serviu para lembrar que os títulos públicos brasileiros pagam 14,25% ao ano, enquanto os americanos não pagam nada. É um excelente prêmio para deixar o dinheiro quietinho, com risco baixo no longo prazo.
Se a presidente Janet Yellen confirmar o que o relatório do Fed aponta nas entrelinhas, parte dos recursos que estão depositados no Brasil tendem a migrar para os EUA. Há quem duvide de uma saída em massa. E faz sentido. Embora a crise institucional brasileira embace a visão de curto prazo, parece inconcebível que o risco de calote do País só seja menor que o de Ucrânia e Venezuela, que estão a milhares de pontos de distância, segundo o indicador Credit Default Swap (CDS), do Deutsche Bank. Egito, Casaquistão e Turquia estão, para os credores, numa situação menos perigosa que a dos títulos brasileiros.
Aquela alusão dos estrangeiros ao futebol reforça que o País continua cheio de atrativos. A comparação entre os placares abria espaço para uma conversa incomum há alguns anos: saber, com riqueza de detalhes, a situação brasileira. Não um resumo das ações do ministro Joaquim Levy, que são fartamente divulgadas, mas a sensibilidade sobre o clima político. O motivo é que ninguém quer reduzir o risco dos ativos brasileiros em suas carteiras de investimento, porque elas já foram rebalanceadas nos últimos 18 meses. Muitos estão com menos Brasil do que gostariam ou poderiam (conforme as políticas de alocação para países sem grau de investimento).
A tentativa é descobrir quando aquela escuridão dará lugar à luz. Assim que o gatilho da melhora espocar, muitas ações que estão com um prêmio-risco atrativo entram no alvo. O recado de Lima é que os estrangeiros não querem perder esse trem de valorização, que uma hora embala. O sinal que vem de fora serve de alerta para os brasileiros – principalmente para os que estão à procura de alguma barbada nos investimentos. A situação do Brasil continua delicada, com as contas públicas no fio da navalha e o ajuste fiscal sob ameaça.
Por isso, quem estiver com uma calculadora em mãos e começar a brincar de montar uma carteira na bolsa vai encontrar uma cesta enorme de empresas muito baratas. Antes de sair comprando o que tiver pela frente, lembre que é um momento em que não existem fundamentos definidos que garantam que barato é barato mesmo. Os tubarões estão famintos no mar à espera dos peixes pequenos. Os especuladores podem arriscar no curto prazo para colher lá na frente, afinal, quem leva goleada é sempre o time mais fragilizado.