O mercado automotivo brasileiro entrou definitivamente na rota das montadoras asiáticas. Depois da coreana Hyundai, agora quem está aquecendo os motores para instalar sua fábrica aqui é a chinesa Chery. Sua primeira unidade fora da China será localizada em Jacareí, no Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, e consumirá US$ 400 milhões. “O mercado apresenta um grande potencial de crescimento e nossos veículos agradam os brasileiros”, diz Zhou Biren, presidente internacional da montadora.

 

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Por que a Chery decidiu construir no Brasil sua primeira fábrica fora da China?

Pelas nossas contas, o mercado automotivo brasileiro pode dobrar de tamanho no médio prazo. Isso leva em consideração a taxa de penetração do automóvel que é de 700 veículos para cada grupo de mil habitantes, nos Estados Unidos, e de apenas 170 unidades por aqui. 

 

Mas, ao contrário dos EUA e da Europa, a renda média do brasileiro é muito baixa. Como vencer esse desafio?

Trata-se de uma limitação não apenas para a Chery, mas para o mercado. Nossa ambição é satisfazer as expectativas dos consumidores em dois campos: qualidade e preço. 

 

O custo Brasil deve reduzir a competitividade asiática, baseada na mão de obra barata. Sua empresa está preparada para isso?

O preço dos carros fabricados no Brasil não será muito diferente dos praticados pela Chery atualmente. Hoje, o custo menor de mão de obra que temos na China, por exemplo, praticamente se anula com a cobrança de 35% de imposto de importação pelo governo brasileiro. Produzir localmente vai afetar positivamente outros custos, sem dúvida.

 

Qual empresa serviu de modelo para a Chery no Brasil?

Sempre analisamos tudo o que os concorrentes fazem. No caso do Brasil, nossa inspiração tem sido a Hyundai. Ela viveu desafios nos EUA, onde entrou e saiu do mercado, para depois voltar e se tornar bem-sucedida. Queremos ser uma espécie de Hyundai da China. 

 

Como a Chery pretende impor-se no mercado brasileiro?

Somos a maior empresa local da China, um mercado de 18 milhões de veículos por ano. Também estamos acostumados a atuar no mercado internacional, pois exportamos para 80 países. 

 

A empresa possui outras experiências internacionais?

Nossas primeiras incursões fora da China aconteceram no Irã e na Rússia. 

 

Os carros chineses têm uma imagem ruim no Brasil. O que têm feito para resolver isso?

Os problemas que tivemos no Brasil estão relacionados ao período de transição entre a saída do parceiro local e a nossa entrada no mercado de forma direta. Chegamos em meados de 2009 e desde então nossas vendas mais que dobraram. 

 

Mas a Chery acaba de anunciar um recall de carros no Brasil. Isso não ajuda a depreciar a marca?

Decidimos pelo recall após descobrir que alguns dos modelos continham peças com amianto. Mesmo não oferecendo qualquer risco à saúde das pessoas, optamos pela troca da peça. Isso mostra nosso compromisso com a melhoria da qualidade de nossos produtos. A Toyota já fez recall em cerca de 1,5 milhão de carros e nem por isso sua qualidade é contestada. 

 

Quais foram as lições aprendidas nesse período em que a marca atua no Brasil?

Descobrimos que é preciso dar mais importância ao serviço de pós-venda.

 

O que a Chery está fazendo para entender a cabeça do brasileiro? 

A Chery do Brasil terá uma presença pequena de chineses. Estimulamos todos a mergulhar na cultura local e a fazer parte dela. Somente desse modo poderemos entender as regras de atuação.