Ao desembarcar no País, há duas semanas, o irlandês Willie Walsh perdeu mais de uma hora para conseguir passar pela fila do controle de passaportes no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP). Esse seria apenas mais um exemplo de percalços relacionados com a infraestrutura aeroportuária brasileira, não fosse por um detalhe. Walsh é o CEO da International Airlines Group (IAG), empresa resultante da fusão da britânica British Airways com a espanhola Iberia, que faturou € 20 bilhões em 2010. Ex-piloto da irlandesa Aer Lingus, o executivo chegou a São Paulo poucos dias depois de anunciar que a IAG obteve lucro operacional de € 39 milhões, no período janeiro-junho. Um resultado importante para quem vinha de dois anos de prejuízos. A seguir, os principais pontos da entrevista concedida à DINHEIRO.

 

DINHEIRO — Logo que desembarcou no Brasil, o sr. pôde perceber que existem gargalos que inibem o crescimento do setor. Qual a sua avaliação dos aeroportos brasileiros?

Walsh — O Brasil tem uma economia fantástica. A demanda por passagens cresce o tempo todo. Infelizmente, a infraestrutura não está conseguindo acompanhar essa demanda. Ouvimos muitas reclamações sobre os aeroportos e parece que esse vai ser um grande desafio.

 

 

DINHEIRO — Diante disso, existem planos de expandir as operações no País?

Walsh — Costumávamos voar de Heathrow (o principal aeroporto de Londres) para São Paulo, seguindo depois para Buenos Aires. Agora temos voos diretos para as duas cidades. Isso já aumenta a capacidade para São Paulo. No Rio de Janeiro, dobraremos, até o fim de outubro, o número de voos semanais para seis. Também na Ibéria, que hoje voa para São Paulo, Rio, Recife e Fortaleza, vejo uma grande oportunidade de expandir o número de voos.

 

 

DINHEIRO — Uma pesquisa recente do site brasileiro Mundi, especializado em viagens, mostrou que Londres é o destino internacional mais procurado pelos brasileiros, muito acima de Buenos Aires, Nova York e Miami. Isso lhe surpreende?

Walsh — A expansão do consumo no Brasil e o fortalecimento do real fez com que Londres ficasse muito mais acessível aos brasileiros. Londres é uma grande cidade e conta com inúmeras opções de lazer. Existe ainda uma série de conexões entre o Brasil e Londres. As mais óbvias são os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, e de 2016, no Rio de Janeiro.

 

  

DINHEIRO — A instabilidade econômica na Europa e nos Estados Unidos podem afetar a retomada do setor? 

Walsh — As companhias aéreas têm uma visibilidade reduzida. Não conseguimos prever um cenário além de um período de três meses. Posso dizer apenas que ainda não percebi nenhuma mudança na demanda por viagens aéreas. Mas estou atento. Acompanho de perto as compras de passagens e ouço o que os gestores de outras companhias estão dizendo. 

 

9.jpg

“A infraestrutura aeroportuária é o grande desafio do Brasil”

 

 

DINHEIRO — Além das crises econômicas, o que mais tem dificultado para o setor de aviação apresentar um desempenho consistente?

Walsh — Enfrentamos uma série de desafios nos últimos dois anos. O maior deles foi o baixo crescimento da economia global. Em 2010, houve ainda a erupção do vulcão Eyjafjallajökull (conhecido como E15), na Islândia, cujas cinzas obrigaram a suspensão dos voos, especialmente das empresas europeias. Neste ano, até agora as coisas estão melhores.

  

 

DINHEIRO — Mas, ainda assim, a alta do preço do petróleo preocupa, não?

Walsh — Na IAG, o custo com combustível será de € 5,2 bilhões, neste ano, montante € 1,3 bilhão maior em relação a 2010. Dessa conta, € 300 milhões se devem à abertura de novas rotas. 

 

  

DINHEIRO — Esse custo será repassado ao preço das passagens?

Walsh — Existe uma capacidade limitada de se fazer isso, por conta de a demanda não estar forte. O setor de aviação sempre leva um tempo para se ajustar. No curto prazo, temos de arcar com a alta de custos. Mas o repasse, mesmo em parte, será inevitável. 

  

 

DINHEIRO — E onde o sr. acredita que seja possível reduzir os custos operacionais?

Walsh — É sempre difícil cortar custos. Mas não quer dizer que não há o que fazer. No primeiro semestre, os nossos gastos, desconsiderando a compra de combustíveis, caíram 5,8%.

 

 

DINHEIRO — Isso significa que as grandes companhias aéreas ficarão cada vez mais parecidas com as empresas de baixo custo, com serviços mais simples?

Walsh — Na Europa, nós já competimos com empresas que adotam o modelo baixa tarifa e baixo custos (conhecidas como low cost – low fare), há 25 anos. Elas estão por aí há muito tempo e o setor se adaptou a esse nível de competição. A British Airways nunca será uma low cost. Vamos continuar focados em serviços diferenciados. É o que sabemos fazer bem e, além disso, existe demanda pelo serviço mais sofisticado principalmente nos voos de longa duração. 

  

 

DINHEIRO — Como o sr. avalia os esforços das fabricantes Airbus e Boeing de projetar aviões mais eficientes no consumo 

de combustível?

Walsh — A indústria aérea vai provar que é possível crescer e, ao mesmo tempo, melhorar o desempenho ambiental. E a melhor forma de se fazer isso é com aeronaves eficientes. A IAG pretende substituir alguns Boeings 767, da frota da British Airways, por modelos 787 que consomem 25% menos. No caso da Iberia, as mudanças atingirão o Airbus A340, que será substituído pelo A330, também mais econômico que seu antecessor.