17/01/2014 - 21:00
O economista paulista Will Landers, gestor-sênior de fundos para a América Latina da empresa americana BlackRock, é responsável por parte das decisões de investir US$ 4 trilhões em fundos administrados pela companhia. Ele avalia que o mercado brasileiro oferece boas oportunidades para os investidores, pois há empresas baratas na Bolsa. Durante uma rápida passagem pelo Brasil, ele falou à DINHEIRO:
Como o investidor internacional está vendo as perspectivas para 2014 nos países emergentes?
No geral, a sensação é de que há uma preferência pelos mercados desenvolvidos, como Estados Unidos, Europa e Japão. Os países emergentes, em geral, estão menos atraentes, porque prometem um crescimento mais fraco e porque o mercado de commodities não está mais tão em evidência.
E o Brasil, em particular?
Em uma pesquisa que fizemos com 100 gestores da BlackRock, o Brasil aparece como a melhor ideia fora do consenso, o que representou uma surpresa. No entanto, não estamos sozinhos na disputa por investimentos.
Quem é nosso principal concorrente na hora de atrair dinheiro?
O México. O que o novo governo mexicano fez desde que tomou posse, no fim de 2012, é de invejar. Foram reformas fiscal, trabalhista, educacional, política, das telecomunicações, e agora a mais importante, a do setor energético, abrindo as reservas de petróleo ao investimento internacional. Tudo isso em 13 meses.
E como o Brasil pode se contrapor a isso?
As empresas brasileiras têm uma vantagem: são mais bem geridas do que as mexicanas. Empresário brasileiro enfrenta competição, empresário mexicano não.
O que assusta e o que atrai no Brasil?
Nada assusta, mas algumas coisas preocupam. A expectativa para 2014 é de um crescimento fraco. Haverá eleições, o que sempre acrescenta um fator de incerteza. E também há a atuação do governo, que parece não ter perdido seu gosto por intervir na economia.
Um eventual rebaixamento da classificação de risco assusta?
Acho pouco provável que as agências de rating resolvam alterar a nota brasileira em um ano de eleição. Se isso ocorrer, o rebaixamento de um degrau, mantido o grau de investimento, já está refletido nos preços. Não seria nenhuma catástrofe.
E o que atrai os investidores?
Vários fatores. Podemos dizer que o crescimento em 2013 foi medíocre, mas foi a mediocridade que a gente esperava, sem muitas surpresas. O principal ponto a favor do Brasil é que ele é um mercado grande, diversificado, líquido e que está barato. Temos boas empresas na bolsa, como Vale e Ambev, que estão sendo negociadas por bons preços.
Quer dizer, nenhum gestor de recursos internacional pode se dar ao luxo de ficar fora do Brasil?
Não é bem assim. Os mercados emergentes respondem por 8% a 9% do total de ativos, e o Brasil representa 20% dos emergentes. Assim, os ativos brasileiros são 2% dos investimentos. Não é um percentual grande o suficiente para tornar obrigatório investir no Brasil.
O que pode reverter essa situação?
Vamos ver se, depois da eleição, o novo governo, qualquer que seja ele, fará o que é preciso: dar uma apertada no lado fiscal, arrumando as contas, baixando a inflação, dando a oportunidade de o Brasil crescer mais e de maneira mais sustentável em 2015 ou 2016. Mas, para isso, é preciso que haja uma melhora na qualidade das decisões.
E o sr. acha isso possível?
Possível? Sim. Necessário? Sem dúvida. Provável? Vamos conversar depois da eleição.