24/11/2010 - 21:00
Muito antes da fama, ele já havia conquistado o respeito de seus pares. Em 2003, ganhou a medalha John Bates Clark, dada aos melhores economistas com até 40 anos. Em novembro, esteve em São Paulo para participar do HSM Management. A seguir sua entrevista à DINHEIRO.
DINHEIRO – O sr. diz que os incentivos são a base da nossa sociedade. Explique essa ideia?
STEVEN LEVITT – Qualquer economista dirá que os incentivos explicam como alguém vai se comportar. Se você descobrir o que vai fazer uma pessoa melhor, você tem um bom palpite de como ela irá agir. O exemplo mais evidente está nos preços. Quando eles sobem, as pessoas compram menos.
DINHEIRO – Como as empresas podem usar os incentivos?
LEVITT – A chave para elas é reconhecer que não há só incentivos monetários. Eles são, é verdade, uma parte necessária da motivação das pessoas. Mas há outros tipos de recompensas, como reconhecimento, status e ser parte de uma equipe.
DINHEIRO – Quais os resultados obtidos por empresas que fazem isso?
LEVITT – Quanto mais elas trabalham com recompensas não financeiras, mais forte é minha crença de que esta é uma ferramenta valiosa.
DINHEIRO – O sr. acredita que a diminuição da criminalidade nos EUA está ligada à legalização do aborto. Qual a explicação?
LEVITT – A teoria de como o aborto afeta a criminalidade é muito simples. Crianças indesejadas são mais propensas à criminalidade. Após a legalização do aborto, portanto, o número de crianças indesejadas caiu drasticamente. Menos crianças indesejadas significa menos crime quando as crianças não desejadas teriam a idade em que cometeriam crimes.
DINHEIRO – Como é possível ter certeza dessa ligação?
LEVITT – O que surpreende na verdade é quão grande é este efeito. Analisando os dados em uma variedade de formas, todas as evidências apontam para a legalização do aborto como a principal explicação para a queda notável da criminalidade nos EUA na década de 1990. Eles caíram pela metade.
DINHEIRO – Os números nunca mentem?
LEVITT – Eles podem mentir sim. Vejo muitos dados incorretos. O maior problema é que quem trabalha com dados muitas vezes faz interpretações erradas ou os usa para responder à pergunta errada.
DINHEIRO – É possível, portanto, fazer malabarismos com eles?
LEVITT – Sem dúvida. Às vezes ele é feito intencionalmente para enganar, mas, na maioria das vezes, suspeito que é só incompetência mesmo.
DINHEIRO – Superfreakonomics não aborda a crise global. Por quê?
LEVITT – Não tenho nada de novo a dizer sobre a crise financeira. O mais difícil nos eventos macroeconômicos é aprender com eles. Nós não temos nenhuma ideia do que teria acontecido se os legisladores tivessem prosseguido com uma política radicalmente diferente.
DINHEIRO – Mas foram os incentivos econômicos que estimularam a especulação e a euforia da bolha.
LEVITT – É claro que os incentivos em vigor estimularam tudo isso. Eles colaboraram para que pessoas e empresas mentissem e assumissem riscos enormes. Como evitar esse problema no futuro, no entanto, não é uma pergunta fácil de responder. Afinal, uma regulação malfeita pode ser pior do que nenhuma.
DINHEIRO – Qual a sua mensagem aos empresários brasileiros?
LEVITT – Tenho uma regra simples: crie uma maneira para que seja possível avaliar as decisões tomadas. Há muitas maneiras de usar os dados para que uma empresa aprenda ao longo do tempo, em vez de apenas repetir os mesmos erros sempre.