Mas o ex-conselheiro da Agência Internacional de Energia (IEA) e ex-executivo da ConocoPhilips acredita que a turbulência na região deixa clara a necessidade de diversificação do suprimento energético. Vice-presidente da Cambridge Energy Research Associates (Cera), uma das mais respeitadas consultorias internacionais de energia, Fryklund concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO:

A alta do petróleo por conta da crise no Oriente Médio será duradoura?  

O mercado de petróleo já está sob pressão há três anos. Houve furacões, o vazamento no Golfo do México. Até agora, essas interrupções foram de curto prazo. Há volatilidade, mas o mercado se reajusta logo. Agora, o aumento da produção pela Arábia Saudita e o retorno da Líbia à normalidade recolocarão as coisas nos trilhos. 

 

Não há uma mudança mais definitiva na região com o fim de regimes que duraram décadas? 

Quando digo que a alta é temporária, acho que deve durar alguns meses, não anos. A Arábia Saudita vai usar parte de sua capacidade ociosa para suprir o mercado, de 300 mil a 400 mil barris por dia, para compensar a redução na Líbia. Acho que a situação é mais difícil na Europa, mais dependente das exportações da Líbia, mas muitos distribuidores tinham estoques que devem durar algum tempo. As receitas do petróleo são fundamentais para manter a economia líbia funcionando.  Então, é de interesse deles resolver a situação o mais rápido possível. 

 

Estamos à beira de um novo choque do petróleo? 

Pergunta interessante… Mas acredito que não, a situação parece ser uma aberração de curto prazo. 

 

Qual a sua expectativa para os preços? 

Mantemos a previsão de uma média de US$ 100 para o barril de petróleo neste ano, com alguns picos de preços.

 

Alguns economistas temem que chegue a US$ 150…

É possível, mas duraria pouco.

 

O sr. acha que será necessário usar os estoques de emergência de petróleo?

Não, a crise teria que ser mais profunda e longa. As reservas criadas pelos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), depois do embargo árabe, só foram usadas uma vez. 

 

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“Não há choque do petróleo, o que existe é uma aberração de curto prazo”

 

Quando isso ocorreu? 

Os Estados Unidos usaram logo após o furacão Katrina, em 2005. Na Europa, porém, esses estoques nunca foram usados. E é essa a região mais afetada hoje. Isso fica claro até pela diferença de preços do petróleo negociado nos EUA e na Europa.

 

O sr. vê risco de a alta do petróleo gerar estagflação e esfriar a recuperação econômica global?  

Ainda é cedo para falar nisso. Nos Estados Unidos,  esse impacto é muito imediato nos preços ao consumidor, mas não é possível generalizar para todos os países e regiões. 

 

Como lidar com a dependência cada vez maior da Arábia Saudita? 

Hoje, a Arábia Saudita tem a maior capacidade ociosa do mundo, mas outros países podem entrar nessa lista. O Iraque também poderá aumentar sua capacidade. Novos países surgem como grandes produtores, como a Angola e o Brasil. Seria realista imaginar que o Brasil será mais influente no mercado entre 2014 e 2015, quando o pré-sal permitirá ao País produzir três milhões de barris. É claro, ficou mais urgente diversificar a matriz energética e investir em combustíveis alternativos.  

 

O etanol é o combustível mais beneficiado? 

O etanol é a face mais visível dessa mudança na área de transportes, não a única. O consumidor reage muito rapidamente a preços. Quando o petróleo bateu US$ 140, havia filas e ágio nos EUA para compra do carro elétrico Prius. Há ainda a alternativa do gás natural em maior escala, especialmente na América do Norte, que tem grande suprimento.