Em abril deste ano, ele foi convidado a trocar o calor de Miami, onde morava, pelo frio de Gotemburgo, na Suécia, e assumir a vice-presidência global de marketing da Volvo, comprada pela chinesa Geely no ano passado. Monturo esteve no Brasil para traçar os planos para a região e falou com exclusividade à DINHEIRO: 

Como o crescimento dos países emergentes pode contribuir para o desenvolvimento das marcas mundiais? 
Há algumas coisas diferentes acontecendo nos países dos Brics, que são muito atraentes, principalmente para marcas de luxo e premium. A primeira é,  obviamente, o enorme crescimento desses mercados. Quando você olha para a América do Norte e Europa, nossa capacidade de crescer é muito pequena.

  

E a segunda característica?
Não há segredo. A segunda é o grande número de pessoas subindo da classe C para a classe B e da B para a A. E elas estão bastante entusiasmadas em consumir produtos premium.

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“A China não é mais um país emergente. Ela já emergiu”

E como isso pode direcionar as estratégias de marketing nesses países? 
Não apenas mais pessoas estão ascendendo às classes sociais mais altas como também são mais novas. Então, há uma grande oportunidade de colocar “juventude” dentro das marcas, focando-se em consumidores mais jovens, nos países emergentes, em oposição aos clientes mais velhos, nos mercados tradicionais. 

 

Seria uma aposta correta fazer essa diferenciação de público-alvo?
Veja o caso da China. Quando se veem jovens de alta renda de 18 anos  com bolsas Louis Vuitton, percebe-se como as coisas são promissoras. A média de idade dos clientes da Volvo na China, por exemplo, é de 38 anos, enquanto no resto do mundo eles estão na faixa  de 48 anos.  

 

Como o sr. vê o mercado brasileiro?
Há muitos anos, o Brasil não era o maior mercado da Volvo. Antes, era a Argentina. Mas, na última década, o País tem ganhado peso e os volumes são maiores do que o total de vendas em todos os países latino-americanos combinados. 

 

Como o sr. enxerga a internacionalização de marcas oriundas dos Brics? 
Os dois mercados com maior potencial de longo prazo seriam Brasil e China, onde há, simplesmente, massa crítica de consumidores. Aliás, a China não é mais um país emergente. Ela já emergiu. No Brasil, há grande atração por marcas internacionais. Se você entrasse na Daslu alguns anos atrás, seria difícil encontrar marcas nacionais. 

 

O sr. se identifica com algumas marcas nacionais?
Tenho algumas, como Guaraná Antarctica, Lojas Americanas e Gol. Há também Havaianas e Globo, que têm bons produtos e bons conteúdos. 

 

As marcas dos países emergentes devem ter maior projeção internacional?
Acredito que os países emergentes terão mais marcas na lista das 100 maiores mundiais dentro de dez a 15 anos. 

 

E como ficam os mercados desenvolvidos? 
Qualquer bom homem de negócios precisa achar uma maneira de equilibrar os mercados emergentes e desenvolvidos e mantê-los funcionando,  lado a lado,  para crescer suas marcas no futuro. Não se pode abandonar os grandes mercados desenvolvidos e colocar toda a energia nos Brics. 

 

Neste cenário, qual é a estratégia de vendas da Volvo?
Nos mercados emergentes, o alto crescimento deve ser focado em apenas um ou dois segmentos, que crescerão mais aceleradamente. Já nos mercados mais desenvolvidos, é preciso otimizar as vendas, levando em conta toda a gama de opções que você tem. Nessa linha, dos quatro tipos de chassis (sedan, coupê, station wagon e hatch) que vendemos na Europa, temos apenas dois aqui. É preciso ter certeza de que os produtos que você trouxer terão boa margem de vendas.