A Dinamarca é um dos países mais ricos do mundo e tem lugar cativo no topo das listas dos melhores lugares para se viver e fazer negócios. Em busca de novas parcerias, a ministra de Comércio e Investimentos da Dinamarca, Pia Olsen Dyhr, trouxe ao Brasil, na semana passada, uma comitiva de empresários. Na quarta-feira 22, recebeu a DINHEIRO, em São Paulo, parauma entrevista exclusiva.

 

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É difícil fazer negócios no Brasil?

Sim. É importante reconhecer que os investidores estrangeiros consideram desafiador fazer negócios no Brasil. Um dos principais gargalos é o excesso de burocracia, algo que praticamente não existe na Dinamarca.

 

O Brasil deixou de ser o queridinho do mercado?

No meu país o Brasil ainda é o queridinho. O governo dinamarquês selecionou dez mercados prioritários, sendo seis emergentes. Sabemos que 90% do crescimento mundial vem de fora da União Europeia. Embora o Brasil não tenha registrado crescimento expressivo como alguns países africanos, ele tem um mercado interno imenso, é uma democracia, e tem regulamentação – embora alguns possam dizer que esta última poderia ser melhor.

 

Então a imagem do Brasil é boa lá fora?

 Se fosse só um pouquinho mais fácil fazer negócios aqui… 

 

Como está a economia dinamarquesa? 

Está muito bem, principalmente se comparada com a de outros países europeus. Nós pagamos juros bem baixos por nossos títulos públicos, porque o mercado confia na nossa economia. 

 

O jornal americano The Wall Street Journal fez uma matéria mostrando que profissionais qualificados estão com dificuldade em encontrar emprego na Dinamarca. É isso mesmo?

Nossa taxa de desemprego está entre 2% e 3%. Mas, é claro, precisamos ter um foco especial nos profissionais mais qualificados. O governo acaba de adotar um sistema em que as pessoas qualificadas que ficam desempregadas trabalham para o governo. Elas não podem ficar paradas em casa.

 

Qual é a estratégia para blindar a economia da crise?

Tomamos cuidado com as despesas públicas. Ao contrário de outros países que abusaram nos gastos, acreditamos que devemos ser responsáveis. Isso permite dar oportunidades e segurança à população. Os dinamarqueses sabem que, se perderem o emprego, terão o apoio do governo, que já oferece serviços de saúde e educação gratuitos, inclusive na universidade.

 

A saída para a Europa é cortar gastos ou estimular a economia?

São as duas coisas. É o que estamos fazendo na Dinamarca e, portanto, é a minha sugestão para a Zona do Euro. É importante a posição conservadora da Alemanha em relação aos gastos, mas, às vezes, é preciso acelerá-los para estimular a economia doméstica. Na Dinamarca, estamos utilizando recursos públicos para reformar escolas e construir hospitais. 

 

A sra. esteve no Ministério do Desenvolvimento, em Brasília, na terça-feira 21. Qual foi o resultado dessa visita?

Foi muito positiva. Podemos ter uma cooperação maior com o Brasil em vários setores, como fármacos, químico e energia. 

 

A sra. gostou da eleição do embaixador Roberto Azevêdo para chefiar a Organização Mundial do Comércio?

Sim, ele é qualificado e tem profundo conhecimento de como funciona a OMC. Se nós queríamos ver o órgão caminhando para a frente de novo, era realmente necessário ter um diretor-geralvindo de um país emergente.

 

Mas o candidato mexicano era o preferido dos europeus, certo?

Os países europeus tinham visões diferentes sobre isso. Sendo diplomática, eu diria que alguns preferiam o mexicano e outros, o brasileiro. É saudável que haja espaço para opiniões diferentes.