25/04/2012 - 21:00
O americano Paul Sistare desembarcou no Brasil em 1996, depois de ter comandado a Richfield Hospitality Services, na China, e de ter sido vice-presidente de operações da Londrina Forte, grupo com mais de 800 hotéis. Hoje ele é acionista e CEO da Atlantica Hotels International, a maior administradora de hotéis multimarcas da América Latina, com 78 estabelecimentos. Com sócios como Gregory Ryan, antigo homem forte do McDonalds no País, e Nicholas Brady, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Sistare falou à DINHEIRO sobre o grande assédio sofrido pelo setor hoteleiro, motivado, principalmente pela Copa do Mundo de 2014 e pelos Jogos Olímpicos de 2016.
Como o sr. avalia o mercado hoteleiro no Brasil?
Sempre falo que nosso setor ainda é jovem e tem muito potencial para crescer. Para se ter uma ideia, a quantidade de quartos que há em Orlando e Las Vegas, somados, equivale ao dobro do que temos disponível, atualmente, no Brasil inteiro. Por aqui, temos cerca de 200 mil quartos. É pouco, mas eles estão concentrados nos grandes centros, em especial no Rio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte e Salvador.
O mercado está preparado para receber eventos do porte da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016?
Não estou preocupado com esses eventos. O que me preocupa, na verdade, é saber o que vai acontecer antes e depois deles. Com relação ao número de apartamentos, acredito que estamos prontos, sim. O que algumas pessoas esquecem é que a Copa acontecerá de maio a julho, que é exatamente o período de baixa temporada.
E a Olimpíada de 2016? O Rio de Janeiro ainda precisa de sete mil leitos para atingir o que foi acordado com o Comitê Olímpico Internacional (COI).
É preciso separar a realidade do Rio de Janeiro da do resto do Brasil. Na capital fluminense existe um déficit, que deverá ser suprido. Mas o grande desafio é expandir a oferta de uma maneira sustentável, porque depois dos Jogos Olímpicos o mercado não será mais o mesmo. E isso vale para todo o setor hoteleiro. Hoje estamos vivendo uma euforia muito grande, com todo mundo vendo o Brasil como a oportunidade de crescer, mas se não dermos um passo de cada vez não conseguiremos permanecer crescendo.
O sr. acredita, então, que investir no Rio de Janeiro não é um bom negócio?
É um mercado muito importante e não temos como ficar de fora, mas hoje ele não está nos nossos planos. O preço dos imóveis está muito alto e a concorrência é muito grande. Bom negócio, para mim, é descobrir novas praças ou explorar cidades onde a concorrência ainda é baixa.
Quais são os principais desafios para ter rentabilidade?
Devemos ter cuidado para que não se repita o que aconteceu de 2001 a 2004, quando vivemos um boom de investimentos em flats e o mercado ficou saturado. Com essa movimentação por causa da Copa e dos Jogos Olímpicos, estamos correndo o risco de viver esse cenário novamente. O grande desafio é crescer racionalmente, para que os investimentos deem retorno depois dos eventos esportivos. Não podemos aumentar a oferta com base apenas em uma demanda que vai durar até 2016. Veja o exemplo da África do Sul: desde o final da Copa do Mundo de 2010, o setor hoteleiro vem sofrendo muito. O movimento caiu, os preços despencaram e algumas unidades até já fecharam as portas. O mesmo aconteceu na China, depois da Olimpíada de 2008.
O sr. acredita que isso pode ocorrer no Brasil?
Trabalho com hotéis há 35 anos e já percebi que, independentemente da cidade ou do país, nosso negócio vive ciclos de mais ou menos sete anos. Nesses períodos, o setor cresce bastante e depois tem uma queda. Estamos em uma fase de ascensão. Isso é bom, mas, quando a fase difícil chegar, será ainda mais complicado: o setor estará mais saturado e a relação de oferta e procura fará nossos preços caírem muito.
O setor vive atualmente uma bolha?
Não diria que é uma bolha, mas vários fatores têm afetado a lucratividade de nossos negócios. Um deles é o valor dos imóveis. Hoje o preço no País está tão alto quanto em cidades como Paris e Nova York. O investimento para construir um hotel é exorbitante. E isso não acontece apenas nas capitais. Cidades de médio porte como Campinas e Londrina também estão com os preços altíssimos.
Mas as tarifas no Brasil estão entre as mais altas do mundo. O lucro aqui é maior?
Realmente, o valor está alto e a expectativa é de que aumente ainda mais. Podemos fazer isso porque temos uma demanda um pouco maior do que a oferta. Hoje, nossa média de ocupação de 69% é uma das mais altas do mundo. Com isso, a lucratividade também é maior. Mas não podemos imaginar que teremos esse ritmo para sempre. Tudo o que sobe desce. É como a lei da gravidade.
Se o setor está tão aquecido assim, então há espaço para mais concorrentes?
Sim, há espaço, mas operar no Brasil não é tão fácil quando parece. As empresas estão querendo compensar suas perdas no Exterior, aumentando as operações no Brasil. Todos estão investindo nas grandes capitais, onde o mercado já está bem servido. Nosso potencial de crescimento não está nas capitais, está nas cidades-satélite. Hoje, as empresas estão migrando para o interior e as novas redes de hotéis não estão acompanhando essa movimentação.
O Ministério do Turismo, em parceria com o Inmetro, relançou o programa de classificação de hotéis. O que o sr. acha disso?
Não pretendemos participar. Nossas bandeiras já são conhecidas e não precisam de classificação. Mas, do ponto de vista do mercado, é uma iniciativa que beneficia muito o consumidor.