O empresário e ativista americano Paul Hawken se tornou um defensor das fontes alternativas de energia. Ele faz sua pregação em fóruns mundo afora e também como fundador e CEO da OneSun Solar, que pesquisa materiais inovadores para produção e armazenamento de energia solar. “Os produtos que geram benefícios sociais e ambientais deveriam ser taxados de forma diferenciada”, diz. Ele adiantou à DINHEIRO os temas que abordará na conferência GreenBuilding Brasil, em São Paulo, em agosto.

 

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Sua empresa, a OneSun Solar, já é uma realidade?

Ainda continuamos trabalhando no desenvolvimento de tecnologias para viabilizar a venda de painéis solares para comunidades carentes. Precisamos ter um produto com custo de produção de até US$ 18, que seja vendido por US$ 29, gere 75 watts de energia e tenha 90% de componentes de plástico reciclado. 

 

O sr. acredita que a queda no preço do gás natural pode inviabilizar os projetos de energia renovável?

De jeito algum. Cada combustível tem um uso específico. O petróleo é para transporte e a eletricidade, para iluminação. A nossa tecnologia é competitiva para recarregar a bateria de carros elétricos. O dono de um Tesla (veículo superesportivo elétrico) pode rodar 25 mil quilômetros por ano e gastar US$ 150.

 

O etanol de cana poderia ser uma alternativa viável ao petróleo? 

O desempenho energético da cana é satisfatório, mas não possuo informações sobre os seus impactos na natureza. Mas o etanol brasileiro faz mais sentido que o americano, baseado no milho.

 

Quais empresas e empreendedores podem salvar o planeta? 

O planeta não precisa de ninguém que o salve, pois conta com mecanismos de autorregeneração. Minha preocupação é com o bem-estar das pessoas. Para isso, precisamos fazer a transição de uma sociedade de crescimento econômico acelerado para a que extrai da Terra apenas o que ela é capaz de fornecer.

 

Diante disso, podemos esperar que o capitalismo salve o mundo?

O capitalismo não vai salvar nada. Essa palavra serve apenas para justificar a ganância e o crescimento acelerado da economia. O ideal seria a adoção de um sistema baseado na colaboração, na justiça social, no uso racional de matérias-primas e no respeito à natureza.

 

O presidente Obama reafirmou seu compromisso com a agenda ambiental. Qual deve ser o papel da iniciativa privada nessa área?

O ponto positivo é que, pela primeira vez, ele falou de mudanças climáticas de uma forma clara e usou a palavra sustentabilidade. Precisamos usar a tecnologia para mudar os paradigmas econômicos, baseados essencialmente no consumo. 

 

Mesmo os consumidores conscientes resistem em pagar mais por produtos verdes. Como mudar isso?

Isso pode ser feito com a taxação menor de produtos que gerem benefícios sociais e ambientais. O contrário do que fazemos hoje quando subsidiamos a venda de carros, de imóveis e de roupas. 

 

A solução para mitigar os efeitos da construção civil na natureza é a adoção em larga escala de prédios verdes?

O que tem sido feito na área de edificações sustentáveis demonstra que as construtoras e seus fornecedores estão se esforçando para desenvolver produtos e tecnologias inovadores. Hoje, alguns edifícios já produzem mais energia e água do que consomem. 

 

E essa experiência poderia ser adotada em outros setores?

Há 20 anos fiz uma palestra em um dos eventos de estruturação do Conselho de Prédios Verdes dos EUA. O tempo mostrou que esse poderia ser um caminho para o setor químico, bancário e agrícola. 

 

Essa será sua primeira visita ao Brasil?

Já estive diversas vezes no País. Em 2011, fiz palestra no Fórum Mundial de Sustentabilidade, ao lado do ex-presidente Bill Clinton e do empresário britânico Richard Branson. Também participei do Fórum Social Mundial, que acontecia em Porto Alegre.