Ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda durante a gestão de Antônio Palocci (atual ministro da Casa Civil), Portugal era o terceiro principal executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Será o primeiro presidente da Febraban sem vínculos com um banco.  Seus desafios são melhorar as relações com o governo e tourear as pressões dos institutos de defesa do consumidor.  De Washington, por telefone, ele falou à DINHEIRO.

 

Como foi a decisão de deixar o FMI pela Febraban?

Fiquei muito feliz pela confiança depositada em mim, mas sinto alguma tristeza em deixar o Fundo Monetário, que exerce um papel fundamental no mundo, embora muitas vezes incompreendido. Trabalhei aqui por 11 anos, primeiro representando o Brasil e outros países e nos últimos anos como diretor-geral-adjunto. Fiz muitos amigos, foi uma decisão que tomei com o coração dividido.

 

O sr. está saindo justamente num momento de redefinição do papel do FMI com a crise europeia e o início do esperado ajuste no poder de voto dos  países emergentes no organismo…

Como disse, fiquei dividido porque o  Fundo ganhou importância recentemente, com os problemas enfrentados por países europeus, e contribuí nesse processo liderado pelo diretor-geral (Dominique Strauss-Kahn). Participei dos programas de ajuda à Grécia e à Islândia, por exemplo. Mas queria voltar ao Brasil, que está passando por um momento muito bom. 

 

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“Espero ter um bom relacionamento com as autoridades com quem trabalhei”

 

O seu mandato no FMI venceria em dezembro?

Como diretor-geral-adjunto, eu tinha um contrato que venceria em dezembro, mas que poderia ser renovado. Optei pela oportunidade de voltar ao Brasil.

 

Por que a Febraban? 

Fiquei entusiasmado, trabalhar no setor privado é um desafio novo para mim, que fiz toda a carreira no setor público, e me atraiu trabalhar num setor tão fundamental para a economia como o bancário. 

 

Quais serão os objetivos principais da sua gestão? 

Não conheço ainda em detalhes a organização, mas espero que a perspectiva que eu levarei  do setor público contribua para ajudar o setor bancário a aumentar a eficiência no desempenho de suas funções.

 

O sr. deve assumir num momento em que há discussões regulatórias importantes…

Não quero falar sobre questões muito específicas, ainda preciso conhecer os assuntos em detalhes. 

 

Em relação às negociações sobre tarifas bancárias… 

Prefiro não comentar, assumo o cargo só em março. Realmente não estou acompanhando os assuntos. Estou há quatro anos fora do País, acompanhando no dia a dia a situação de 81 países, excluindo o Brasil.

 

E os conflitos com os institutos de defesa do consumidor? 

Teremos muita abertura às demandas dos clientes, que no final das contas são os responsáveis pelos lucros. A função da Febraban é explicar tanto ao governo quanto à sociedade as condições das quais o setor precisa para desempenhar o papel esperado. 

 

Há quem diga que uma das razões de sua escolha para o cargo foi a proximidade com o ministro Antônio Palocci.

Não acredito que seja essa a razão. Isso nem apareceu nas conversas que tive com os executivos da Febraban. 

 

Mas a relação com o governo será uma prioridade? 

É claro que eu espero ter um bom relacionamento com as autoridades com quem trabalhei, mas não terei certamente nenhum tratamento especial. Isso não é nem do meu feitio nem do feitio do ministro Palocci.