28/03/2016 - 0:00
Em vez de reclamar das dificuldades e da burocracia, uma nova geração de empresários brasileiros está mais atenta às oportunidades, inclusive nos mercados estrangeiros. É essa a avaliação de Mauricio Borges, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), órgão do governo que ajuda as empresas a se prepararem para competir no Exterior. “Tem crescido muito o interesse das empresas brasileiras pelo mercado internacional”, afirma Borges nesta entrevista à DINHEIRO.
Apesar da redução do comércio internacional, existe mercado lá fora para as empresas brasileiras?
O mundo diminuiu o ritmo de comércio, mas sempre existe uma oportunidade. Se um país tem uma crise, é possível focar em produtos que vão ajudá-lo a enfrentar essa crise.
Onde estão essas oportunidades?
Além dos mercados mais tradicionais, como EUA, China e Índia, estamos buscando oportunidades em outros países. Fizemos uma lista de 11 países com grande potencial. Além de Peru, Colômbia e Chile, temos vários países africanos. Já existem empresas brasileiras no Sudão.
Como está o mercado americano agora, depois da crise?
Com a retomada do mercado imobiliário, eles voltaram a comprar materiais ligados à construção: cerâmicas, metais ferrosos, móveis. Uma de nossas ações é o patrocínio das corridas de Fórmula Indy, em que empresários dos dois países têm oportunidade de se encontrar num ambiente mais descontraído. Além disso, os carros são abastecidos com etanol de cana. Em cada etapa incluímos empresas nacionais que têm relação com a economia do lugar.
E as empresas brasileiras conseguem competir com as chinesas?
Sim, porque os chineses precisam de uma escala de produção muito grande. Já os brasileiros conseguem produzir numa escala menor.
Como está a internacionalização das empresas brasileiras?
Tem crescido muito o interesse pelo mercado internacional. Temos um programa junto com a Fundação Dom Cabral que cria as condições para as empresas se internacionalizarem. A Dudalina fez um projeto conosco para entrar no mercado americano. Eles pensavam em fazer franquias. Outras empresas estão entrando com franquias, como a rede de fast-food Giraffas. Também nos procuraram a Kappesberg, a Piccadilly, a Tigre, a Forno de Minas…
Qual é a imagem que o Brasil quer vender lá fora?
Criatividade com tecnologia. Todas as pesquisas feitas nos últimos anos mostram que o Brasil tem essa imagem de criatividade, mas precisamos reforçar a parte de tecnologia.
Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelas empresas brasileiras para se internacionalizar?
Há os problemas com a burocracia, mas é preciso conhecer as regras de cada país e se adequar. Às vezes é preciso mudar o produto, e isso tem um custo. Mas assim ele se torna mais competitivo.
Elas conseguem fazer essas mudanças?
Algumas empresas, não são todas. Mas muitas conseguem e, por isso, estão exportando. Existe uma curva de aprendizado. São vários detalhes que interferem, até culturais. Às vezes, o profissional vai morar em outro país e não se adapta. Mas hoje existe uma percepção maior de que é preciso fazer isso para ser bem-sucedido lá fora. O brasileiro está mais empreendedor. Vendo a oportunidade, e não o problema.
De que maneira a MP 627, que trata de bitributação, interfere na internacionalização das empresas brasileiras?
É uma situação que já acontece. As empresas reclamam que atrapalha, mas convivem com isso. Muitas conseguem exportar assim mesmo.
As empresas esperam menos do governo hoje em dia?
Acho que sim. O brasileiro está mais empreendedor e, em vez de reclamar, está olhando as oportunidades. É o caso do interesse pela África. E são as empresas pequenas e médias que estão fazendo isso. Elas têm mais flexibilidade para se adaptar a outros mercados. Mas não deixaram de olhar para o mercado brasileiro.