Ajuda aos bancos espanhóis, desemprego recorde na França e indústria em marcha lenta na Alemanha. As más notícias colocam em xeque as medidas de austeridade na União Europeia. Mas é possível crescer com austeridade, diz  Marek Belka, presidente do Banco Central da Polônia e ex-diretor do FMI.

 

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O pacto de austeridade da UE acentuou a recessão do bloco?

Sim, em alguns casos. Mas um dos pontos centrais da crise é a perda de confiança de investidores e de quem toma crédito. 

 

Austeridade e crescimento são compatíveis?

Em tese, sim. Os países podem focar-se  no aspecto microeconômico. Cortam-se gastos, mas onde o efeito no crescimento é neutro. Mantêm-se investimentos e se estimula o emprego dos jovens. E, se for inevitável, elevar impostos que não travem o crescimento. 

 

A união da França e Alemanha é imprescindível?

O bloco não funciona sem esses motores econômicos. A situação na Europa é tão difícil que os políticos precisam tomar decisões que pode lhes custar a reeleição. A Polônia é um exemplo disso: depois que deixamos o bloco comunista e abrimos nossa economia, nenhum governo conseguiu se reeleger nos 17 anos seguintes.

 

A Europa pode resistir somente com a Alemanha crescendo? 

É preciso revigorar as economias da França e Itália, os outros pilares sobre os quais se construiu a União Europeia. E o que acontecer na Inglaterra também é importante, por isso temos aconselhado a não pisarem no freio tão forte.

 

Qual é o papel dos dez países da UE que não adotaram o euro?

O Reino Unido é um assunto à parte, pelo tamanho de sua economia e pela força de sua moeda. Mas as economias da República Tcheca,  Polônia e Suécia vão bem. De algum modo, deve-se ao fato de contarem com a flexibilidade das próprias moedas. 


A adesão ao euro seria viável no futuro?

Não no futuro próximo. Há um preço de não estarmos na Zona do Euro. Sofremos com a volatilidade monetária. Mas aderir ao euro seria insensato. Quando uma casa está em chamas, deve-se entrar com a mobília? Não. Pode ser perigoso abraçar o euro e nos beneficiarmos de um nível de juros que nunca experimentamos. Precisamos nos preparar. E, se entrarmos, estar atentos a bolhas de crédito. O Banco Central da Espanha estava atento aos problemas, já que introduziram um colchão financeiro, que protegeu grandes bancos. Mas não as “cajas”, como o Bankia. Essas instituições foram sacudidas por más políticas de investimento. A Espanha é um bom exemplo de que, mesmo que você conheça os perigos, isso pode não ser o bastante. Por isso a Polônia não tem pressa pelo euro.

 

Como os espanhóis podem crescer sob um plano de austeridade?

A Comissão Europeia acatou as sugestões do governo espanhol de tolerar um déficit maior (3% do PIB) do que o inicialmente acordado. Uma possível solução é definir as metas fiscais, não em termos percentuais em relação ao PIB, mas em termos absolutos. 

 

Qual a importância do Banco Europeu de Investimentos (uma espécie de BNDES da UE) atualmente?

Esses investimentos já acontecem. A Comissão Europeia também emite títulos para financiar projetos fora da Zona do Euro.

 

Os países estão dispostos a injetar recursos no BEI?

Embora seja positivo para países com problemas, aqueles que se comportaram – como a Alemanha, Áustria e Finlândia – não gostam. Teriam de pagar pela política fiscal desregrada dos parceiros. Todos os planos levam à questão da união fiscal. 

 

Quais efeitos a crise pode trazer para mercados como o Brasil?

Se a Europa treme, o mercado financeiro reage, com volumosas saídas de capital. Esse movimento também acontece com a Polônia. Mas as exportações brasileiras são baseadas em commodities e a tendência é de que os preços se mantenham elevados.