14/02/2014 - 21:00
O setor de bens de capital se destacou em 2013, com um crescimento de 13,3%, segundo o IBGE. O resultado destoou do restante da indústria nacional, que, na média, teve uma expansão de apenas 1,2%. Com faturamento anual de R$ 667 milhões, a Indústrias Romi, sediada em Santa Bárbara D’Oeste, no interior paulista, é umadas mais tradicionais fabricantes do setor. “Prevemos estabilidade no nosso mercado em 2014, mas estamos preparados para um crescimento maior”, diz Livaldo Aguiar dos Santos, presidente da Romi, que foi entrevistado pela DINHEIRO durante evento do Experience Club, em São Paulo.
Quais são as perspectivas para o setor de bens de capital?
Não vejo nenhuma anormalidade em termos de crescimento. Não há super-retração no horizonte. A grande retração, na verdade, já ocorreu nos últimos anos. No segmento de máquinas-ferramenta, o mercado chegou a quatro mil máquinas, em 2010. Desde então, encolheu para 2,5 mil ao ano. Agora, prevemos estabilidade nesse mercado. Mas se tiver alguma mudança inesperada, a nossa capacidade produtiva comporta um crescimento maior.
O atual momento econômico justifica a cautela do empresariado?
Sim. Em função do que vem acontecendo ultimamente, acho que todo mundo está cauteloso. Não há no horizonte ações que sinalizem que essa postura tem de ser diferente.
Mas a Copa do Mundo não vai ajudar a economia?
O consumo, de fato, será impulsionado pela Copa. Porém, para o setor industrial, o evento não trará grandes resultados.
As eleições atrapalham o ano?
Apesar dos prognósticos de continuidade do atual governo, o processo eleitoral sempre cria volatilidade no mercado financeiro.
A retirada dos estímulos monetários pelo Federal Reserve é preocupante para o Brasil?
No caso específico da indústria, a retirada dos estímulos nos Estados Unidos pode ser positiva para as exportações brasileiras. Isso porque a desvalorização cambial deixa o Brasil mais competitivo.
Estava difícil exportar com o dólar perto de R$ 2,00?
Com certeza. A taxa de câmbio do ano passado, por exemplo, era muito perversa para toda a exportação. O resultado final pode ser visto na balança comercial, que teve um pequeno superávit. Neste ano, no entanto, o real desvalorizado pode gerar um ganho de competitividade e ser bom para a indústria nacional.
O atual patamar do dólar, em torno de R$ 2,40, é o mais adequado para o setor industrial?
É difícil ter uma régua exata. Com certeza, R$ 1,60 não serve. Já o patamar atual de R$ 2,40 traz uma competitividade muito maior. Qual é a cotação ideal? Não existe. Se o real se desvalorizar muito, cria um monte de consequências ruins na economia.
Uma delas é a alta da inflação…
Exatamente. Ninguém gosta de inflação, só que juro alto é o remédio errado. Acaba desestimulando os empresários.
Qual seria o remédio correto para controlar os preços sem esfriar a economia?
O controle das despesas públicas talvez desse mais resultado do que uma taxa elevada de juros, que acaba inibindo os investimentos. O governo tem de ter mais atenção a isso, pois a elevação da taxa de juros funciona bem num determinado nível de déficit público. Quando cresce muito o déficit, a efetividade do aumento dos juros não é tão grande. Já vivemos isso no passado. O governo precisa apertar o “cinto fiscal” para ter resultado melhor para os investimentos.
A crise na Argentina preocupa?
Sim. Nossa empresa exporta para a Argentina desde 1943. É um mercado interessante, embora seja pequeno se comparado ao do Brasil. Seria interessante que a Argentina voltasse aos trilhos. Aliás, todos os emergentes estão com problema de credibilidade e precisam reverter isso.