Com o crescimento econômico dos últimos anos, muitas ONGs e organismos multilaterais reduziram o envio de recursos sociais para o Brasil, privilegiando a África, a Ásia e outros países da América Latina. Trata-se de um erro, na visão de Lisa Jordan, diretora-executiva da Fundação Bernard van Leer, da Holanda, que investe em ações voltadas à infância no País. Lisa esteve em São Paulo, no final de outubro, onde participou do II Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, promovido pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis).

 

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Ao contrário de muitas ONGs globais, que deixaram de investir no Brasil por não considerá-lo mais um país pobre, a Fundação van Leer manteve os investimentos. Por quê? 

A Fundação Bernard van Leer é uma entidade privada, que não depende de recursos de terceiro. Por conta disso, nossa estratégia não está sujeita a interferências externas. Investimos € 2 milhões por ano no País e não temos a intenção de deixar de fazê-lo.

 

No que se baseia a sua análise?

Acreditamos que essa não é a hora de abandonar o Brasil. Ao contrário: o País passa por um período no qual estão sendo colocados em prática projetos de classe mundial no campo social – o Brasil é um grande laboratório para projetos sociais. A fundação tem um programa que atende crianças em regiões isoladas do Amazonas que, se der resultados, pode ser reaplicado em qualquer lugar do planeta.

 

Qual a relação entre a filantropia e o sucesso de uma empresa?

Existem dois motivos para que as empresas olhem o investimento social, especialmente à infância. O primeiro deles é que quanto mais investem no bem-estar dessa faixa etária, incluindo os filhos de seus próprios funcionários, a produtividade de sua força de trabalho tende a crescer. Além disso, não podemos esquecer que as crianças de hoje serão os trabalhadores de amanhã. 

 

A fundação atua há cerca de 30 anos no Brasil. Nesse período, quais são as mudanças que a sra. destacaria nas políticas públicas?

Houve uma melhora substancial nos indicadores sociais, graças ao incremento da distribuição de renda. A percepção da média da população sobre o seu desenvolvimento e bem-estar também mudou. As manifestações de junho mostraram que as demandas, agora, são por serviços públicos de qualidade e não apenas por questões básicas.

 

E, na prática, o que a sra. poderia destacar, em relação aos progressos na área social?

Acredito que o Brasil está em uma posição ímpar e será capaz de mostrar ao restante do mundo como é possível evoluir no campo social de maneira consistente. 

 

Além do Amazonas, onde mais a fundação atua?

Temos projetos no Rio, em São Paulo e no Recife. Nossa atuação é mundial e se dá nos locais em que a Greif (empresa de embalagens do EUA, que comprou a Bernard van Leer Industrial, patrocinadora da fundação) mantém fábricas. Nossa meta é ter projetos de relevância global.

 

Muitos especialistas vinculam a devastação da Floresta Amazônica à pobreza, é isso mesmo? 

Não concordo com esse ponto de vista.

 

A sra. acredita que o capitalismo pode salvar o mundo?

Acredito que o dinheiro é como o óleo usado no motor de um carro bonito e eficiente. Não resolve tudo, mas faz com que as engrenagens se movimentem de uma forma melhor.

 

Como avalia a atuação das empresas brasileiras na área social?

Sem dúvida, os empresários brasileiros destacam-se nessa área em nível global. Especialmente quando o assunto são os programas ligados à infância. Grandes corporações, como a Petrobras, têm compromissos de longa data com projetos sociais. Inclusive, somos parceiros em vários deles aqui no Brasil.

 

Estamos no caminho certo?

Sim. Temos visto muitas coisas boas acontecendo, especialmente as parcerias entre a sociedade, a iniciativa privada e o governo.