Com faturamento de € 18 bilhões e presente em 43 países, o grupo holandês Randstad é o segundo maior na área de recursos humanos e consultoria de gestão de pessoas do mundo. Apesar disso, desembarcou no País há menos de um ano. Seu principal diferencial em relação aos concorrentes, como o americano Michael Page, é a contratação de trabalhadores temporários. É uma forma de trabalho que Leo Lindelauf, responsável pelas operações na Europa e América Latina, pretende desenvolver aqui.

 

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O principal negócio da Randstad está em encontrar pessoas para trabalhos temporários. No Brasil, é muito comum isso ser feito pelo varejo, no fim do ano. Mas é pouco comum em empresas de outros setores. Isso dificulta a atuação de vocês?

O Brasil está desenvolvendo essa cultura. Aqui, menos de 1% dos funcionários das empresas é composto por temporários. Na Europa, fica entre 3% e 4%. Queremos ajudar o País a chegar nesse nível. Podemos trazer essa prática para cá, com os nossos clientes globais.

 

Qual é a importância de ter temporários nas empresas?

Para o empregador, é importante ser flexível. Nenhuma empresa pode se dar ao luxo de ter o tempo todo um número de funcionários suficiente para atender ao seu pico de demanda. Traria ociosidade.

 

Mas não é ruim para os profissionais?

Nosso trabalho é conectar as pessoas às atividades disponíveis. Com isso, também ajudamos a dar a elas experiência e educação. Na verdade, ninguém é temporário para sempre. Depois de dois ou três empregos, elas acabam contratadas permanentemente.

 

As pessoas estão mais preparadas a assumir essas funções?

A visão da pessoa permanentemente empregada fazia sentido há duas décadas. Agora não faz mais. Nem mesmo no Japão. Se comento com meus filhos sobre empregos por dez anos na mesma empresa, elas acham um absurdo. Os jovens não têm mais medo de mudar de emprego. Foram os nossos pais que colocaram na nossa cabeça que deveríamos achar um emprego e continuar lá até a aposentadoria.

 

E, para o País, quais são as vantagens?

Nenhum país é uma ilha. Para se manter competitivo no longo prazo, o Brasil precisa ter um mercado de trabalho fluente, flexível e de qualidade. Somos uma empresa que organiza o trabalho: então, tentamos influenciar a legislação trabalhista de uma forma justa.

 

O Brasil é conhecido por ter uma legislação do trabalho bastante rígida. Há problemas legais em espalhar essa prática?

Isso também acontece em Portugal, Holanda, Alemanha. É importante haver discussões com os sindicatos. Mas os temporários também contribuem com impostos, movimentam a economia com salários e alimentação. Uma máquina totalmente rígida não funciona. Ela precisa de óleo.

 

O trabalho temporário pode ajudar a diminuir a informalidade?

Sim. Se pensarmos que o Brasil tem uma população de quase 200 milhões de pessoas, deveria ter uma mão de obra de 100 milhões. Mas menos de 50 milhões de pessoas têm carteira assinada. Podemos levar algumas dessas pessoas para a formalidade.

 

A Randstad atuará no mercado de call centers, que é um dos maiores empregadores do Brasil?

Não queremos entrar nesse nicho. É muito difícil competir com a parte cinzenta desse mercado, que é muito grande. O preço da unidade de trabalho é muito baixo e há muitos processos trabalhistas.

 

Como vê o mercado de trabalho mundial?

No nosso último anúncio de resultados, há mensagens mistas. Há crescimento na América Latina, nos Estados Unidos e na Ásia e Pacífico, com destaque para a China. Na Europa, há queda de contratações. Em alguns países, chega a 7% no ano.

 

Que conselho daria a um empregador brasileiro? 

Se eu fosse um deles, passaria o tempo todo falando sobre três coisas: educação, educação e educação.