A gestora americana de recursos Franklin Templeton é uma empresa grande, do  tipo de gigante que pouca gente consegue visualizar. Em fevereiro, ela administrava US$ 727 bilhões em todo o mundo, o equivalente a dois terços de toda a indústria brasileira de fundos. Com escritórios em 30 países, a gestora é uma observadora privilegiada dos humores do mercado. O economista e contabilista Kenneth Lewis, responsável pelas finanças e pela política de investimentos da empresa, esteve no Brasil no fim de fevereiro. Para Lewis, os investidores estão adotando estratégias mais defensivas em todo o mundo. Ele tratou desse e de outros tópicos em uma entrevista exclusiva à DINHEIRO.

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O mercado financeiro internacional parece estar voltando à estabilidade. Passada a crise, quais as novas estratégias dos investidores?

Houve duas grandes mudanças com a crise, especialmente nos Estados Unidos. Uma delas foi a elevação da liquidez, causada pelos programas de ajuda estatais. A outra foi uma redução muito grande da alavancagem financeira, tanto dos bancos quanto dos investidores individuais. Com isso, podemos notar uma redução no apetite pelo risco e uma busca por ativos financeiros diferentes daqueles que eram os mais procurados até 2008.

 

O que mudou?

Na renda variável houve uma mudança de abordagem. Os investidores que não reduziram o percentual de seus ativos dedicado às ações passaram a preferir empresas mais estáveis. Ganharam popularidade  aquelas companhias que não prometem crescer tanto, mas que são boas pagadoras de dividendos e cujo desempenho relativamente previsível. No caso específico dos Estados Unidos, percebemos que um percentual maior de pessoas trocou aplicações em ações pelos fundos negociados em bolsa, os Exchange Traded Funds (ETFs). Ambos parecem ser produtos bastante parecidos, mas a diferença é que um ETF possui várias ações em sua carteira, e essa diversificação ajuda a reduzir o risco. Também há mais apetite por aplicações de renda fixa em todo o mundo.

 

Apesar da forte queda dos juros, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa?

Sim, a aversão ao risco ainda permanece bastante forte para muitos investidores. Nesse cenário, muitas pessoas reduziram sua exposição a ações e às aplicações mais arriscadas, e a alternativa para boa parte desses recursos é a renda fixa, ainda que renda pouco.

 

Isso aumenta a atratividade de aplicações no Brasil, por exemplo, onde os juros são elevados?

Sem dúvida, mas não só por isso. O Brasil oferece várias vantagens em relação a outros países emergentes. Possui um bônus demográfico, pois tem uma população jovem que está entrando no mercado de trabalho e de consumo. Seu mercado financeiro é de classe mundial, é bem desenvolvido, transparente e tem regras claras. As contas públicas são bem estruturadas e a economia está crescendo. 

 

O que mais atrai os investidores internacionais no mercado brasileiro?

Principalmente os investimentos na infraestrutura e no setor de petróleo, e também no setor de consumo. Há muito interesse em aproveitar os retornos elevados que essas aplicações oferecem.

 

O mercado americano de gestão de recursos atravessou uma profunda consolidação depois da crise. Esse processo já acabou?

Há pouco espaço para grandes movimentos de consolidação, nos Estados Unidos, pois a maior parte dos grandes negócios entre os maiores bancos já foi fechada. No entanto, notamos que, do ponto de vista do cliente, o mercado está bem mais seletivo do que há alguns anos. 

 

Como assim?

Até antes da crise, os investidores não se incomodavam em confiar seu dinheiro a uma empresa especialista, que tivesse poucos ou até mesmo um único produto. Eram os chamados monoliners. Um exemplo  eram casas que vendiam apenas produtos derivados do mercado de títulos imobiliários. Atualmente, há uma propensão dos investidores em diversificar suas apostas, exatamente para reduzir o risco de mercado de uma estratégia lastreada em um único ativo. Por isso, a preferência dos clientes é por gestores  que ofereçam um portfólio mais amplo de produtos e administrem investimentos com mais ou menos risco.

 

Isso vale para todo o mundo?

Sim, respeitando-se as características individuais de cada um dos mercados. Mas há alguns pontos que são universais. Por exemplo, atualmente os investidores americanos, europeus, brasileiros e japoneses querem ter pelo menos uma parte de seus portfólios em alternativas defensivas, como commodities agrícolas e minerais e em energia, especialmente petróleo.

 

Como atender a essas demandas?

O fato de os investidores estarem evitando o risco não quer dizer que eles estão dispostos a abrir mão da sofisticação. Nossa estratégia de mercado é oferecer produtos diferenciados e adequados a cada perfil de risco, pois essa é uma variável que os investidores estão olhando cada vez com mais interesse. O investidor não se incomoda em correr riscos, desde que eles sejam explicados claramente para ele.

 

Nesse cenário, qual a estratégia de negócios da Franklin no Brasil? A empresa não tem uma rede de agências nem exclusividade com grandes bancos. Os srs. estão negociando alguma aquisição?

Se estivéssemos, eu não poderia comentar. No entanto, nossa principal aposta aqui é no que chamamos de arquitetura bancária aberta, ou seja, distribuir nossos produtos por meio de bancos, sem exigir exclusividade. Temos um acordo com o Citibank e estamos negociando outros.