Este será um ano-chave para a montadora japonesa Nissan no País. Depois de investir R$ 2,7 bilhões na construção de uma fábrica em Resende (RJ), a empresa espera se recuperar do tombo que sofreu em 2013, quando suas vendas caíram 26%. O motivo: a definição de cotas pelo governo federal aos veículos importados do México, de onde trazia seus carros. “Eu entendo as razões que motivaram o governo, mas claro que para a Nissan não foi uma boa notícia”, diz François Dossa, presidente da filial brasileira.

 

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As vendas de carros recuaram 0,9% no ano passado, e as perspectivas para este ano não são as mais otimistas. O cenário preocupa a Nissan?

De fato, o mercado não está otimista, mas temos de pensar que nos últimos dez anos o mercado dobrou. Não podemos ser ingênuos de esperar que o mercado vai crescer a um ritmo de 15% todos os anos. Mas o cenário de médio e longo prazo é de crescimento. A Nissan, por exemplo, investiu R$ 2,7 bilhões na fábrica pensando nos próximos 20 anos, não apenas no atual período de instabilidade.

 

Mas não preocupa a forte retração das vendas da Nissan no ano passado? A queda foi de 26%.

Foi um resultado esperado. Nosso modelo era de importação do México e o Brasil impôs a cota. Nós atingimos o limite de importação estipulado pelo governo, depois começou a faltar carro. Sabendo dessas dificuldades, procuramos nos preparar para 2014, ano em que estabelecemos a meta de aumentar as vendas em 50%.

 

Como o sr. recebeu a decisão de cotas de importação?

Claro que para a Nissan não foi uma boa notícia. Estávamos num momento de aceitação muito grande. A limitação barrou isso. Agora, se foi uma decisão acertada, só o ministro Fernando Pimentel (Indústria e Comércio) pode responder.

 

Mesmo estagnado, o mercado brasileiro continua atraindo montadoras. Qual é a estratégia em um setor tão competitivo?

Todos jogam o mesmo jogo. Quem ganha é o consumidor. Os brasileiros terão uma oferta maior de produtos, com mais qualidade. O Inovar-Auto foi uma decisão superacertada. Se você quer vender aqui, também tem de produzir aqui. Isso tem colocado todas as empresas num mesmo patamar.

 

Então o sr. concorda com as medidas do governo?

Com o Inovar-Auto, sim. Ele incentiva a inovação e a produção. Tenho certeza que o carro brasileiro em 2017 não será igual ao de 2012. Os veículos terão tecnologia própria, não copiada. O programa traz mais custos para as empresas, mas considero uma boa política.

 

O programa vai aprimorar a tecnologia produzida no País?

Acredito que o Brasil será um player importante na criação de tecnologia automotiva. Antes, era o contrário. O Brasil não tinha tecnologia. As montadoras mandavam linhas já amortizadas, velhas. Será natural, com a modernização, exportarmos mais. 

 

O crescimento das marcas chinesas intimida?

Acho que não devemos colocar os chineses como competidores à parte. Eles terão que arcar com as mesmas regras e comprar aço, plástico e pneus como a gente. Para saber como vai ser, temos de esperar a primeira montadora de lá abrir uma fábrica no País.

 

A fábrica da Nissan em Resende poderá ser antecipada?

Continuamos com a meta de abrir a linha de montagem até o fim do primeiro semestre. Queremos tudo em perfeitas condições. Estamos treinando o pessoal e testando o maquinário. Saímos de 300 para 1,8 mil funcionários desde novembro. Temos de ter calma.

 

A meta de triplicar a participação até 2016 está mantida?

Totalmente. Queremos ganhar 1% de market share, ao ano, até lá. 

 

Para este ano, qual é o maior desafio da Nissan?

A nossa fábrica. Mostraremos que somos capazes de produzir carros com bom custo-benefício para o brasileiro.