11/04/2012 - 21:00
A injeção de € 529 bilhões do Banco Central Europeu (BCE) no sistema financeiro da União Europeia trouxe o otimismo de volta. Embora a presidenta Dilma tenha afirmado se tratar de mais uma onda no “tsunami monetário”, o verdadeiro tsunami seria deixar a crise se agravar, diz o diretor-geral da Banca d’Italia – o banco central italiano –, Fabrizio Saccomanni. Sobre a Itália, que esteve no olho do furacão em 2011, a previsão é de crescimento a partir do segundo semestre.
O Banco Central da Itália prevê que o PIB deve encolher 1,5% este ano. Quais serão os efeitos dessa retração?
Este será um ano de recessão. Mas, a redução do déficit fiscal e o controle dos gastos públicos já diminuíram a diferença no prêmio por títulos italianos, comparado aos alemães. No segundo semestre, voltaremos a crescer. Em 2013, prevemos um PIB de 1%.
Com o déficit fiscal em 3,9% do PIB, o governo tem margem para aplicar medidas de estímulo à economia?
As medidas estimulam o consumo pela redução de impostos sobre companhias e folha de pagamento. Elevamos também a tributação sobre patrimônio e ganhos financeiros. Essa realocação nos permitirá elevar o consumo interno, sem pressionar o déficit.
O sr. acredita numa nova recaída da crise?
Não, já sofremos o “double dip” nessa recessão. No caso da Itália, tomamos medidas para restaurar o crescimento. Se o cenário internacional se recuperar, evitará uma nova recessão.
O setor privado está tendo acesso a crédito?
As medidas do BCE blindaram a economia real.
A presidenta Dilma afirmou que o resgate do BCE fortaleceu o “tsunami monetário” que valoriza o real. Qual é a sua opinião?
São situações diferentes. Nos Estados Unidos, a crise decorreu das dívidas privadas. Na Europa, as dívidas públicas dos países tornaram necessário um resgate pelo BCE. Sem a intervenção do BCE, a repercussão na economia mundial poderia ter sido uma recessão profunda na Europa. E houve uma valorização do euro, que acredito não ser responsável pela valorização do real.
Então a que se deve a valorização das moedas emergentes?
Deve-se muito mais às medidas tomadas pelos Estados Unidos, que mantêm uma política fiscal muito expansionista, enquanto aqui é mais restritiva. Em todo caso, é um efeito temporário, porque essa liquidez será enxugada assim que os bancos voltarem a se financiar. O verdadeiro tsunami teria ocorrido se o BCE não tivesse agido.
O sr. concorda com a tese do ministro Guido Mantega de que a guerra cambial cria condições desleais no comércio exterior?
Esse é um problema sério, a ser debatido num contexto internacional. O euro tem sido uma das moedas mais fortes nos últimos anos. Em 2000, valia US$ 0,82. Hoje, vale US$ 1,31. Não creio que o problema tenha origem na Europa. É resultado mais das políticas monetárias dos EUA e da China, que tem o renminbi indexado ao dólar.
O sr. acredita que há solução?
Devemos estabelecer faixas para que a moedas flutuem de forma que não extrapolem patamares que gerem desequilíbrios. Mas um país sozinho não vai conseguir fazer isso – nem mesmo o Brasil – sem antes discutir num fórum multilateral, como o G20.
O calote seletivo da Grécia garante a sobrevivência do euro?
Vai demorar uns dois anos até que os problemas sejam controlados. Mas fizemos um grande avanço. É um indicativo de que a Europa não permitirá que especuladores rompam nossa união monetária.
O presidente Nicolas Sarkozy defende uma espécie de imposto sobre operações financeiras. A Itália apoia a medida?
É preciso impor um controle sobre o capital especulativo. A especulação acaba por gerar desequilíbrios sistêmicos. Nosso ministro de Finanças, Giulio Tremonti, disse que, em princípio, não é contra. Mas frisou que se trata de uma medida que precisa ser adotada em consenso por todos os 27 países-membros da União Europeia. E essa será uma longa discussão.