22/02/2012 - 20:00
O banco suíço Julius Baer é uma das cinco maiores empresas independentes de gestão de recursos e private bank do mundo, com o equivalente a R$ 316 bilhões sob administração no fim de 2011. Com escritórios na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, o banco ingressou no mercado brasileiro em maio de 2011 ao comprar uma participação da empresa de gestão de recursos GPS. O foco é o mesmo dos demais concorrentes suíços: administrar o dinheiro dos muito ricos de forma muito discreta. Observador privilegiado do mercado, Boris Collardi, CEO mundial do Julius Baer, falou com exclusividade à DINHEIRO de seu escritório em Genebra.
“Estamos otimistas com a Ásia, a América Latina – em especial
o Brasil – e a Europa Oriental”
O ano começou com uma recuperação nos mercados, o Brasil inclusive. Esse movimento é sustentável?
Vamos falar primeiro dos mercados maduros.Assim, temos de separar Europa e Estados Unidos. No caso da Europa, a expectativa é de que as medidas adotadas pelo governo grego no início de fevereiro ofereçam uma solução de longo prazo e sustentável, que é algo que não havíamos visto até agora. Mesmo que o volume do mercado grego seja pequeno em termos europeus, a demora em encontrar uma solução era muito ruim. No entanto, agora esse risco parece afastado.
Isso vale para outros países do continente europeu?
Sim. Países em dificuldades mais sérias, como Itália e Espanha, parecem estar mais perto de uma solução, o que é bom. Não será um movimento tranquilo, ainda haverá dificuldades à frente, idas e vindas, mas as coisas estão no caminho certo.
Qual sua avaliação sobre a economia dos Estados Unidos?
A economia americana vem dando bons sinais de recuperação. Observamos muitas melhoras nos indicadores daquele país. Não por acaso, houve uma valorização significativa das ações americanas em janeiro. No entanto, nossa avaliação é que esse movimento será de curta duração. A recuperação econômica dos Estados Unidos parece bastante encorajadora, mas a alta dos preços não terá muito fôlego porque os volumes estão pequenos. No entanto, não será o mercado americano nem o europeu que vão definir o que vai ocorrer neste ano.
O que vai definir a trajetória do mercado em 2012?
Mais importante do que os mercados maduros, as decisões tomadas pela China e, em menor escala, por outros países asiáticos, vão ter um impacto muito maior nos preços mundiais. Esses já são, e vão continuar sendo, os vetores da direção do mercado nos próximos anos. No entanto, em geral a situação está bem melhor do que no ano passado.
Por quê?
A situação dos bancos, especialmente os europeus, está mais sólida. Muitos deles já receberam ajuda governamental e conseguiram recompor suas bases de capital. Eles ainda vão precisar de recursos, mas a maior parte dessa tarefa já foi completada. Aos poucos, eles vão normalizar suas atividades, embora em níveis inferiores ao que faziam antes da crise.
O sr. acredita em uma onda de consolidação bancária?
Acredito que não. Para que isso ocorresse, seria necessário haver sobra de capital para financiar as compras e a disposição de gerar valor por meio de fusões e aquisições. Os bancos estão sólidos, mas não é possível dizer que eles tenham sobras de caixa para comprar seus concorrentes. Eu também não acredito que haverá grandes movimentos internacionais de compra de bancos. A maioria das instituições vem adotando uma postura muito mais cautelosa, e isso não deve mudar no curto prazo.
Bancos mais sólidos e economias em crescimento vão garantir um ano mais calmo, então?
Não, nossa avaliação é que este ano será muito, muito volátil, mas não devido aos bancos. A recuperação econômica está ocorrendo em quase todo o mundo, mas não é um movimento uniforme. Alguns países estão em melhor situação do que outros, e ainda podem surgir problemas específicos, o que vai aumentar a turbulência.
Há portos seguros para o investidor? Quais?
Estamos otimistas, pela ordem, com a Ásia, com a América Latina – em especial o Brasil – e com a Europa Oriental. Há algum tempo esses países eram chamados de emergentes, mas essa denominação não é mais correta, eles já emergiram. O mais adequado é chamá-los de países em crescimento. Daí virão as maiores oportunidades de investimento ao longo dos próximos anos.
Qual sua avaliação do mercado brasileiro?
Temos uma estratégia semelhante para o Brasil e para alguns países da Ásia, a China em especial. Acreditamos que é nessas praças que vamos fazer a maior parte dos nossos negócios nos próximos anos. Nossos escritórios na Ásia já empregam 400 pessoas, mais de 10% dos nossos 3.600 funcionários em todo o mundo, e nossa expectativa é que esse percentual cresça.
O que mais o atrai no Brasil?
A economia é sólida, está crescendo sem excessos e a entrada de milhões de consumidores no mercado é uma excelente defesa contra a turbulência. Por isso fizemos um investimento na GPS no ano passado. Não pretendemos atuar apenas nas praças conhecidas, como São Paulo e Rio de Janeiro. Outras cidades, como Belo Horizonte e as capitais do Nordeste têm muito dinheiro circulando, e é lá que pretendemos atuar.